Saiba como as festas universitárias podem influenciar o desenvolvimento e a saúde mental dos jovens.
O primeiro semestre universitário de 2022 foi diferente, mais precisamente uma novidade para boa parte dos estudantes que começaram a cursar entre 2020 e 2021. Depois de passar dois anos com aulas virtualizadas, em isolamento, sem poder ter contato presencial com a universidade, colegas e professores, os alunos voltaram às aulas nos campus. Alguns destes estudantes podem dizer que iniciaram as aulas presenciais, já que ainda não haviam experienciado essa prática.
Foi nos primeiros meses deste ano que algumas restrições geradas pela pandemia de Covid-19, foram afrouxadas e algumas práticas universitárias que são como um ritual, voltaram a acontecer. Os trotes para quem acabou de chegar, os chamados calouros, e as festas de boas vindas, que agora são chamadas de calouradas voltaram a reinar pelas universidades de Salvador e de todo o Brasil.
Diante disso, fizemos uma pesquisa sobre os efeitos da pandemia no desenvolvimento e na saúde mental do jovem universitário e como as calouradas podem influenciar nisso.
Muitos jovens ingressaram nas faculdades durante a pandemia, ou seja, não houve uma socialização, não houve tempo de estar na universidade, com colegas e professores. Para a psicóloga Gabriela Matos, esse retorno é desafiador. “É o momento de readaptação para as aulas presenciais, alguns podem lidar melhor com esse novo momento, podem se sentir animados em colocar em prática assuntos do curso que só foram vistos de forma remota, além de ter o contato com professores e colegas, durante e na pós aula, assim outras trocas simbólicas podem acontecer, já que essas experiências foram prejudicadas na pandemia”, afirma. Mas pode não ser assim para todos, para alguns estudantes esse retorno poderá ter mais dificuldades. “Alguns podem perceber que não estão se identificando com o curso, outros podem sentir mais dificuldade em fazer amigos ou ter dificuldade em realizar trabalhos em grupo, e alguns estudantes podem não se sentir pertencentes a universidade”, explica Gabriela.
É neste contexto que entram as calouradas! Festas que acontecem para receber os calouros da melhor forma possível: descontraída e fora do âmbito acadêmico, para que os novos estudantes se sintam acolhidos pelos veteranos. Para Julia Vasconcelos, do 3° semestre de Enfermagem, “a faculdade é um ambiente muito amplo em que você tem oportunidade de conhecer muitas pessoas ao mesmo tempo e talvez, por essa imensidão, muita gente se torne retraída (…) então, é sempre bom ter essas festas para que haja socialização de todos os alunos”. A psicóloga Gabriela Matos acredita nos benefícios dessas festas. “Esses encontros podem favorecer o desenvolvimento de novas aprendizagens, a construção de afetos e rede apoio, ajuda na comunicação, contribui para o lazer, contribui para estabilidade emocional e contribui para a abertura de novas experiências, desde que não seja espaços tóxicos e violentos”, comenta.
Porém, eventos como a calourada e os trotes podem acarretar problemas. De acordo com Gabriela, “Se esse ambiente tiver situações vexatórias, ou até de humilhação pública, isso é violência. Não trará resultados positivos, psicologicamente esses calouros podem experimentar emoções como vergonha, culpa, raiva e a depender do que eles trazem enquanto história e experiência de vida, é possível desenvolver transtornos emocionais”. Islan Paulo, do 3° semestre de psicologia também reflete sobre esse tipo de problema: “Acredito que as calouradas ajudam bastante o convívio entre os alunos, por ser um momento de se divertir, sair um pouco das exigências do ambiente acadêmico (…), mas a depender de como as pessoas se comportam, das atitudes ou da forma que a pessoa se diverte pode acarretar diversos problemas, no caso de atitudes antiéticas e anti morais”.
Para que não haja problemas, é necessário que essas festas sejam receptivas, acolhedoras e saudáveis. Podendo assim, contribuir na diminuição das angústias que fazem parte dessa etapa da vida. Afinal, “muitos jovens saem de cidades pequenas, para vivenciar o sonho de entrar na universidade. É uma mistura de emoções, expectativas e medo, pois longe de seus pais e amigos, eles terão que criar uma nova rede de suporte e aprender a lidar com os desafios da vida acadêmica”, continua Gabriela.
“Portanto, a universidade e os veteranos têm um papel muito importante, na criação desta e outras ações coletivas, como por exemplo espaço de acompanhamento psicológico, suporte pedagógico, que promovam a integração do estudante ao ambiente universitário e ao seu curso. Essas ações podem contribuir para adaptação dessa nova realidade que eles estão se deparando”, finaliza a psicóloga.