Após dois anos de pandemia, os jovens se reencontraram em festas para viver o outro lado da experiência universitária.
O dia 11 de março de 2020 ficará marcado na história da Bahia como o dia em que entrou em vigor a primeira medida de restrições por conta da Covid-19. Sob uma ótica geral, o medo e a apreensão pela incerteza do futuro se fez presente nos corações de todos. Ao longo de mais de dois anos, diversos segmentos foram afetados, sobretudo o educacional. Estudantes das várias modalidades de ensino se viram trancados em casa e obrigados a largar sua rotina, numa modalidade de ensino virtualizada em que as interações eram limitadas a uma tela de celular ou computador.
Trazendo um foco para o ensino superior, os quatro semestres de ensino virtual foram superados a muito pesar e com muitas perdas ao longo do caminho. Além da forma de ensino remota, que pode ser mais cansativa, a perda de todas as experiências e trocas sociais é imensurável. Seja na sala de aula, nos encontros pelos corredores ou mesmo em eventos sociais organizados pelas instituições de ensino, ou pelos grupos de estudantes, conhecidos como Atléticas Acadêmicas, essas vivências tornam-se importantes para levar a graduação de forma mais leve.
AS FESTAS
Conversando com estudantes de diversos cursos e semestres, o sentimento de felicidade com o retorno presencial é visível nos jovens. Mesmo com algumas medidas sanitárias (que com o tempo foram se afrouxando, à exemplo do uso de máscaras), a sensação que se tem na maioria dos entrevistados é de se ter superado o pior momento da pandemia.
Por conta dessa sensação de maior segurança, neste semestre de 2022.1, os diversos eventos realizados pelas Atléticas Acadêmicas retornaram com mais vigor que nunca, usando da saudade dos reggaes como catalisador para festas sempre cheias e muito animadas.
Os novatos, denominados calouros, são recebidos no começo dos semestres com as tradicionais Calouradas, eventos organizados pelas atléticas de cada curso para introduzir e apresentar os novos graduandos aos seus colegas veteranos. Do outro lado, temos o reencontro dos veteranos, que já puderam experimentar as festas universitárias e agora, após dois anos, tem a oportunidade de voltar para matar a saudade e curtir tudo o que se há nesses eventos.
Para o estudante do 3° semestre de Psicologia, Islan Paulo, a experiência é única e traz muitas vantagens para os universitários. “Fui, pois queria me divertir, interagir com novas pessoas e conhecer um ambiente diferente do que estou acostumado.”, nos conta.
Um exemplo do quão marcante podem ser essas festas é o depoimento de Arthur Miguel Oliveira Pacheco, ex-aluno formado em Arquitetura. O arquiteto, mesmo após se formar, ainda ajuda as atléticas na elaboração das calouradas.
“Assim como eu, outros colegas que já se formaram e faziam parte da diretoria, continuam ajudando os novos membros, desde a entrevista até ensinar como guiar nossa atlética. Foram anos de dedicação em busca de reconhecimento, não só entre atléticas, mas pelos reitores das faculdades, então apenas abandonar sem se importar foi impossível. Hoje fico mais na supervisão e quando a nova diretoria tem dúvida, [me] chama para perguntar e pedir dicas. Temos um grupo no WhatsApp com todos eles observando o que fazem e dando realmente ajuda. Até eles conseguirem se virar sozinhos”, relata.
AFINAL, O QUE ROLAM NAS FESTAS?
Os primeiros pensamentos que podem surgir ao se pensar em eventos universitários são aqueles que costumamos ver em filmes estadunidenses, onde cada festa é resumida apenas em litros de bebidas alcóolicas e jovens descontrolados. Mesmo com a presença de álcool, as ditas calouradas não são apenas “sexo, drogas e rock n’ roll”, há muitos outros elementos que dão a cara das festas.
A calourada é um momento de distração dos estudantes que passam horas do dia e da semana estudando e, alguns, até estagiando para concluir a graduação. Essa festa é uma oportunidade de diversão e interação entre os jovens que estão na mesma faculdade, mas por conta da correria do dia a dia, acabam não se conhecendo. É um momento de se divertir, dançar e aproveitar um outro lado da vida universitária. Para deixar mais clara essa ideia dos elementos que são a cara da calourada, o estudante Islan Paulo trouxe alguns aspectos da sua vivência nessa festa.
“A calourada ajuda bastante por ser um momento de se divertir, sair um pouco das exigências do ambiente acadêmico e podendo ter um momento descontraído com os colegas de turma ou de outros cursos ou semestres. Mas a depender de como as pessoas se comportam, das atitudes ou da forma que as pessoas se divertem, pode acarretar diversos problemas, no caso de atitudes antiéticas e antimorais”, explica.
Segundo a presidente da Atlética de Arquitetura e Urbanismo, Rute Oliveira, houve uma alta no número de universitários que estão procurando essas festas após o período pandêmico.
“As festas de agora, pós pandemia, estão bem mais lotadas. Parece que os universitários estão na necessidade de consumir festas, e isso é bom, já era de se esperar toda essa empolgação para festas após dois anos sem participar desses eventos da faculdade”, conta.
Para além de ser um momento de encontros e descontração para os estudantes, as festas são também uma oportunidade para algo mais. Para as atléticas, é uma oportunidade de mostrar presença ativa e ser vista pelos demais cursos e estudantes, sobretudo se for uma recém-criada. Quem nos fala mais dessa importância é Edgar Pereira, vice-presidente dos Leviatãs, a Atlética do curso de Relações Internacionais.
OS BASTIDORES DO EVENTO
Para realização das festas, há um trabalho gigantesco por trás, que além de envolver muitas pessoas na organização, exige também muito cuidado para que tudo saia da melhor maneira possível. Os membros das Atléticas têm a responsabilidade de cuidar de todos os detalhes e realmente fazer o evento acontecer. Pode parecer uma tarefa árdua e pesada, mas de acordo com Sydnei de Oliveira, estudante de Cinema e presidente da Atlética de Comunicação (Majestade), está longe disso.
“Em relação ao processo de organização das calouradas, os trotes normalmente são menores, então nós escolhemos as datas e como irá acontecer 20 dias antes, e estamos sempre conversando sobre detalhes dele via WhatsApp, mas como os trotes são meio que padrão (acontecem no Zélia Bar e as Pinturas e brincadeiras começam no paredão do fundo da faculdade) não tem muita dor de cabeça. Calouradas maiores, principalmente unificadas, são pensadas 2 meses antes porque temos que ter certeza da data, viabilidade de acesso dos alunos, clima e tempo, valores, bebidas, bandas, datas de provas e trabalhos da faculdade, dentre outras coisas e as reuniões das unificadas, por mais que tenham conversas via online, acontecem semanalmente presencial para acertar detalhes, assinar contrato e etc”, afirma Sydnei.
E o que leva um estudante que já tem diversas obrigações acadêmicas e até mesmo estágio se envolver no trabalho de fazer um evento de apenas uma noite? Para Rute Oliveira, foi uma oportunidade que encontrou na faculdade.
“Quando você entra na faculdade, é interessante buscar uma rede de apoio, que esteja ali para te ajudar. E foi na Tormenta que eu encontrei essa nova família, pessoas que me acompanham desde o início, que sempre se fazem presente e sei que posso contar. Toda a diretoria passada já se formou, aí que surgiu o interesse, dar continuidade ao trabalho que tanto ajudou e ajuda os universitários. Para conciliar os estudos e eventos, até então está tranquilo. Sempre mantendo contato com todos os diretores da atlética, quando um não pode estar presente ou fazer algo que lhe foi definido, outro tenta dar continuidade sozinho ou com a ajuda de todos”, conta.
As calouradas e outras festas universitárias, são eventos que auxiliam na socialização com os colegas e podem trazer bons momentos de descontração, relaxando um pouco a mente de trabalhos e obrigações diárias do dia a dia.
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Confira algumas imagens do FUZUÊ FEST: