Um panorama da saúde: vida e morte no território baiano 2020

Por Ananda Costa, Clísia Reis, Laura Araújo e Lucas Pereira

Imagem ilustrativa/Pixabay

Por Ananda Barboza, Clísia Reis, Laura Araújo e Lucas Pereira,

Desde a chegada da Covid-19 no Brasil, todas as esferas de vida foram profundamente alteradas, tendo a nova doença como eixo central de discussões, desde as conversas da vida íntima até as veiculações de notícias e dados divulgados por órgãos oficiais e veículos de imprensa. Entretanto, o que aconteceu com as outras causas de óbitos e doenças? Pensando nisso, levantamos alguns dados despretensiosos para elaborar um panorama de saúde na Bahia em 2020; com dados sobre natalidade e causas de mortalidade em alguns municípios do estado.

NOVAS VIDAS
Deixando para trás o já conhecido cenário de mortos e infectados tão divulgado nos noticiários, fomos na contramão e buscamos apurar os dados sobre a vida, ou melhor, sobre as novas vidas que vieram ao mundo no primeiro ano pandêmico na Bahia. Apenas em 2020, cerca de 186.103 pessoas nasceram em nosso estado, segundo dados da plataforma DataSus, do Ministério da Saúde. Isso representa cerca de 6,16% dos nascimentos em todo o país.

Considerando os municípios de nascimento dos novos baianos, a capital Salvador possui os maiores valores de natalidade, cerca de 38.625 crianças, que corresponde a 20,8% do total estadual. É importante salientar que os dados coletados trazem apontam os registros de nascimentos ocorridos nas dependências dos municípios, seja em hospitais ou locais de atendimento em saúde e até mesmo domicílios ou outras situações, e não os registros catalogados por local de residência.

Visto isso, a partir de critérios não técnicos e passionais (proximidade, relação parental ou pelo nome), selecionamos algumas cidades baianas para debruçar-nos mais profundamente, além da capital, Salvador. São elas: Antas, Campo Formoso, Cansanção, Conceição do Coité, Inhambupe, Iraquara, Itamaraju, Lajedo do Tabocal, Pedrão, Poções, Presidente Tancredo Neves, Ribeira do Pombal e Valença.

O somatório dos índices de natalidade de todos esses variados municípios corresponde a 6% do total de nascimentos na Bahia, cerca 11.083 registros. Dessa lista de cidades, trabalharemos inicialmente com alguns extremos: os locais de maior e de menor nascimento ao longo de 2020.

Mais Nascimentos

O município de Antas está localizado na região Norte da Bahia, a mais ou menos 350 km de Salvador. A cidade se encontra mais perto de Aracaju, capital de Sergipe, do que da capital de seu próprio estado. Das cidades analisadas, ela aparece em 2º lugar no ranking de maior natalidade, atrás apenas da cidade de Valença, que fica na região do Baixo-Sul. Nasceram cerca de 1.734 antenses em 2020. À primeira vista pode não parecer muita coisa, mas o número de nascimentos lá foi maior que o de outras cidades de maior quantidade de habitantes no estado, como Cruz das Almas, que teve 1.561 nascimentos, e mesmo cidades da Região Metropolitana de Salvador, como Simões Filho (1.094) e Lauro de Freitas (907).

Menos nascimentos

No extremo oposto, os locais de menor quantidade de nascimento são: Pedrão, Lajedo do Tabocal e Inhambupe. O caso de Pedrão tem um detalhe condicionante para o baixo número de nascimentos, a cidade se encontra situada entre Feira de Santana e Alagoinhas, municípios que estão entre os maiores do estado, o que faz com que esses dois acabem absorvendo casos clínicos das cidades pequenas ao redor. Durante todo 2020, apenas um nascimento foi registrado em Pedrão, no mês de setembro.

Lajedo do Tabocal teve 13 nascimentos registrados. A justificativa pode ser a mesma de Pedrão, já que Lajedo do Tabocal fica próximo de cidades maiores como Jaguaquara e Jequié. Por fim, Inhambupe, que fica a aproximadamente 160 km de Salvador, apresentou 180 nascimentos, tendo maior incidência nos meses de maio (22) e abril (21).

Fechando a parte de nascimentos, levantamos os principais meses de ocorrência nesses municípios. Dos 11.083 registros, cerca de 1.074 pessoas nasceram no mês de maio, o maior índice do ano. Já o mês de menor registro de nascimento é novembro, com 796 nascidos.

MORTES E SUAS CAUSAS

Partindo para o oposto da vida, a morte, trouxemos dados de mortalidade nesses mesmos 13 municípios. Foram 3.729 mortes ao longo do ano de 2020. No estado inteiro, o número de óbitos foi 106.491. Das cidades abordadas, o município que mais registrou mortes foi Valença, com 634 mortos. No segundo lugar aparece Ribeira do Pombal, cidade nordeste do estado, com 551 registros. O mês com maior índice de óbitos nas cidades foi junho, com 71 registros (Valença) e 60 mortes em outubro (Pombal).

Investigando e aprofundando as causas das mortes, encontramos desde causas comuns até outras pouco convencionais. Para auxiliar nesta busca, a lista da Classificação Internacional de Doenças (CID-10) foi imprescindível. Essa é uma lista publicada desde 1992 e contém uma listagem de doenças, quadros clínicos e etc, para fins de catalogação e estudo e está em sua 10ª edição, por isso CID-10.

A partir dela, será possível buscar as causas dos óbitos nas cidades. Para cada mês do ano, uma cidade será associada. Por exemplo, o mês de janeiro, 1º do ano, terá dados de Cansanção para este mês; fevereiro terá os dados de Antas, etc. Por serem 13 cidades e 12 meses, optamos retirar desta parte o município de Valença.

Os números de topo apresentam os casos selecionados para análise via CID-10. Confira na tabela abaixo quais as categorias destacadas e os consequentes números e causas mais recorrentes:

CIDADEÓBITOS DESTACADOS (QUADRO CID-10)CAUSA
CANSANÇÃO3 – DOENÇAS ENDÓCRINASDIABETES MELLITUS – 2 CASOS 
ANTAS2 – DOENÇAS APARELHO RESPIRATÓRIOASMA – 1 CASO
ITAMARAJU9 – DOENÇAS APARELHO CIRCULATÓRIOAVCs – 3 CASOS
CONCEIÇÃO DO COITÉ5 – DOENÇAS ENDÓCRINASDIABETES MELLITUS – 5 CASOS
INHAMBUPE5 – CAUSAS MAL DEFINIDAS OU DESCONHECIDASCAUSAS NÃO DEFINIDAS OU ESPECIFICADAS – 5 CASOS
PRESIDENTE TANCREDO NEVES2 – DOENÇAS APARELHO RESPIRATÓRIOINSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA – 1 CASO /PNEUMITE – 1 CASO
PEDRÃO2 – DOENÇAS APARELHO CIRCULATÓRIOINFARTO – 1 CASO /HIPERTENSÃO – 1 CASO
POÇÕES3 – DOENÇAS APARELHO DIGESTÓRIODOENÇAS DE FÍGADO POR QUESTÕES ALCÓOLICAS – 2 CASOS
IRAQUARA4 – DOENÇAS CARDÍACAS NÃO DEFINIDASDOENÇAS CARDÍACAS NÃO DEFINIDAS – 4 CASOS
LAJEDO DO TABOCAL3 – DOENÇAS APARELHO CIRCULATÓRIOINFARTO – 1 CASO AVC – 1 CASO CAUSA NÃO DEFINIDA – 1 CASO
RIBEIRA DO POMBAL6 – DOENÇAS APARELHO RESPIRATÓRIOGRIPE/INFLUENZA – 3 CASOS
CAMPO FORMOSO 9 – DOENÇAS APARELHO CIRCULATÓRIOINFARTOS – 5 CASOS

Por fim, ao longo desses quase três anos de convivência intermitente com a Covid-19 e com a retomada gradual da “normalidade” da vida, outras questões voltaram a ser preocupações “principais”, como a problemática da segurança pública na Bahia ou mesmo as eleições presidenciais de 2022. O que este levantamento busca é mostrar que nossas vidas podem ser resumidas a dados e números, mas tudo depende de quais contornos, cenários e associações são traçadas a partir disso.

Para finalizar, é importante mostrar um comportamento dos números de natalidade e mortalidade no estado. Com os 106.491 registros, 2020 foi o ano de maior índice de óbitos, se comparado à 2019 (92.811), 2018 (89.423) e 2017 (90.185). Por outro lado, também foi o ano de menor quantidade de nascimentos registrados, foram 186.103 contra 195.050, em 2019; 203.396, em 2018; e os 202.287, alcançados em 2017. 

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