Por: Ana Clara Pires
18 de setembro de 2023
Sendo o quinto maior produtor de algodão do mundo, o Brasil consegue evidenciar, desde o plantio ao produto final, o seu potencial tecnológico sem negar, principalmente, a importância da sociedade em toda fabricação. Com o momento atual, onde há diversos debates sobre as tecnologias estarem cada vez mais substituindo os seres humanos, a Associação Baiana de Produtores de Algodão (Abapa) tem mostrado que vem nadando contra a maré e reafirmando o papel dos homens – e mulheres – em todas as etapas do processamento da cultura.
“Nosso objetivo é agregar todos no processo produtivo. Eu preciso das pessoas, são elas que fazem a diferença. A tecnologia está aí, a informação está aí, as máquinas vieram para ajudar. As pessoas que vêm operar hoje encontram muito mais facilidade que um operador de máquina há 10, 20 Anos”, disse Luiz Carlos Bergamaschi, presidente da Abapa.
Para aguçar o interesse da comunidade na produção da commodity, a Abapa criou diversas estratégias de inclusão que visam não só trazer a população para dentro do algodoeiro, como também devolver para o conjunto, através de ações sociais, os lucros obtidos pelo trabalho. O Centro de Treinamento é um dos exemplos de programa criado pela Abapa para qualificar, incluir e empregar a sociedade.
Segundo a associação, com o investimento em pesquisa científica e tecnologia, o Brasil desenvolveu um modelo de agricultura tropical sem precedentes no mundo, influenciado pelas inovações. “E, se um terço dos empregos do país estão direta ou indiretamente ligados ao campo, as pessoas que ocupam estes postos também precisam acompanhar a evolução.”
Dentro do Centro de Treinamento, são analisadas as necessidades da coletividade para que as turmas sejam cada vez mais inclusivas. O gerente do setor, Douglas Fernandes, deu detalhes sobre um programa de treinamento que foi criado para mulheres. A turma foi criada para que mulheres conseguissem se sentir mais confortáveis no ambiente “educacional”, e assim se sentissem incentivadas a participar.
“Quando nós tínhamos a presença de homens, elas se sentiam um pouco constrangidas porque, às vezes, aquele trabalhador tinha um pouco mais de habilidade. Por outro lado, quando elas estavam em uma turma voltada para o público feminino era muito mais atrativo para elas. Elas se sentiam muito mais acolhidas”, declarou Fernandes.
O líder prosseguiu afirmando que a ideia foi um sucesso. Que mulheres sem “perspectiva de conseguir um emprego”, encontraram a possibilidade de ter uma carreira profissional. Todavia, ele finalizou alegando que o centro não faz “distinção entre homem e mulher”, desta forma, elas podem participar da turma mista. O objetivo é que elas tenham a oportunidade de fazer o que as deixam mais confortáveis.
Inclinado a falar sobre a importância da educação no processo agrícola, Douglas explicou que a cotonicultura – cultivo de algodão –, só pode se considerar evoluindo se a tecnologia e a sociedade estiverem no mesmo ritmo. Porque “se antes nós tínhamos a intenção de contratar trabalhadores braçais, hoje nós investimos na qualificação para que eles possam ser operadores de máquinas”.
Se por um lado o Centro de Treinamento prepara as pessoas para as trazerem para dentro do ambiente produtivo, por outro o programa da Patrulha Mecanizada devolve para toda a comunidade de Luís Eduardo Magalhães, onde fica localizada a sede da Abapa, e outros municípios do interior da Bahia, dignidade para percorrer as estradas.
A medida consiste na revitalização de vias vicinais, que ligam propriedades rurais às principais rodovias do estado, que não são, em sua maioria, asfaltadas, o que por si só já compromete a trafegabilidade dos produtores, dos trabalhadores e dos moradores das regiões. Em períodos de chuva, se torna comum ver caminhoneiros presos em estradas por dias, algumas vezes com cargas vivas, precisando ser rebocados por tratores para deixar esses locais.
A gerente do programa, Daniella Dias, contou que além de revigorar as rodovias, o projeto também realiza o resgate desses profissionais que precisam de ajuda para tirar seus veículos das estradas. “Esta é uma das iniciativas dos agricultores que beneficia o patrimônio público, e está alicerçada no triplo pilar do conceito de sustentabilidade: ambiental, social e econômico.”
Para além da preocupação social, a ambiental também se faz presente neste processo. “Nós vamos conservar essas estradas em perfeito estado. Então, nós fazemos valetas laterais e bacias de captação que você pode ver ao longo das estradas”. As valetas e bacias são feitas para que a água da chuva seja escoada mas, continue penetrando o solo.
De acordo com Bergamaschi, atualmente a Bahia tem aproximadamente 7.000 km de rodovias vicinais. “Aquilo beneficia quem? O produtor? Claro, ele pode transportar qualquer época do ano, mas beneficia também a sociedade, porque todos vão usar as estradas”.
“Então tem que investir em pessoas, em qualificação, transferir conhecimento, isso é melhorar a vida das pessoas”, finalizou o presidente da Abapa, Luiz Carlos Bergamaschi.