Foto: Jhenifer Santos
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Algodão baiano semeia saúde e sustentabilidade para o futuro

O setor de algodão na Bahia vai além da produção têxtil, com impactos significativos na saúde pública e sustentabilidade, graças ao aproveitamento integral do caroço e às práticas inovadoras de empresas e associações do setor

Por: Jhenifer Santos

O algodão, popularmente conhecido como “Ouro Branco” em algumas regiões, é um dos pilares da economia agrícola do estado da Bahia. Em especial, o oeste baiano responde por cerca de 95% da produção de algodão no estado, consolidando a Bahia como o segundo maior produtor de algodão do Brasil.

Em 2023, a produção de algodão na Bahia alcançou aproximadamente 1,5 milhão de toneladas, gerando uma receita bruta de mais de R$ 4 bilhões, segundo dados do IBGE. Além de impulsionar a economia, a cotonicultura baiana também desempenha um papel essencial na saúde pública e na sustentabilidade. Com práticas modernas e o máximo aproveitamento de seus subprodutos, como o caroço de algodão, o setor vem promovendo melhorias significativas no bem-estar da população e na proteção ambiental.

A Associação Baiana de Produtores de Algodão (Abapa), em parceria com empresas como a Icofort, vem impulsionando iniciativas voltadas para a sustentabilidade no processamento do algodão. Com foco no aproveitamento integral da planta, essas práticas inovadoras têm contribuído para áreas essenciais, mostrando como o cultivo do algodão pode ir além da produção têxtil e gerar impactos positivos para as comunidades.

Algodão Como Fonte de Saúde e Sustentabilidade

O caroço do algodão é a parte interna da planta que muitas pessoas desconhecem. Ele é o que sobra após a extração das fibras, e tem várias utilidades na cadeia produtiva da cotonicultura. Rico em proteínas, o caroço é amplamente utilizado para a produção de óleo de algodão, que é empregado na fabricação de produtos alimentícios, além de ser transformado em ração animal para o gado, devido ao seu valor nutricional.

“O caroço do algodão é um dos principais subprodutos que processamos aqui. Dele, conseguimos extrair óleo bruto, que depois é refinado e transformado em óleo comestível, margarina e biodiesel”, explica Vitor Ramos de Jesus, supervisor de produção da Icofort. A Icofort é uma empresa especializada no processamento e comercialização de produtos derivados do algodão, reconhecida por sua abordagem prática e inovadora na utilização dos subprodutos do algodão.

Foto: Reprodução/Abapa
Foto: Reprodução/Abapa

Sustentabilidade e Saúde ambiental

A cotonicultura na Bahia também está alinhada com práticas que promovem a saúde ambiental. O óleo de algodão, por exemplo, é utilizado na produção de biodiesel, um combustível renovável que contribui para a redução de emissões de gases de efeito estufa.

O biodiesel produzido a partir do óleo de algodão é resultado de um processo conhecido como transesterificação. Nesse processo, o óleo vegetal é misturado com álcool (geralmente metanol ou etanol) e um catalisador, gerando dois produtos principais: biodiesel e glicerina. O biodiesel, por ser de origem vegetal, tem uma pegada de carbono muito menor do que o diesel derivado de petróleo, já que as plantas de algodão absorvem CO₂ durante o seu crescimento, compensando parte das emissões resultantes da queima do combustível.

“Utilizamos o óleo bruto do caroço de algodão para produzir biodiesel, que é uma alternativa sustentável ao óleo diesel tradicional. Esse combustível renovável ajuda a reduzir as emissões de CO₂ e outros poluentes atmosféricos, contribuindo para um ambiente mais saudável”, ressalta Vitor Ramos de Jesus, reforçando o compromisso do setor com a sustentabilidade.

O uso de biodiesel não só reduz o impacto ambiental, como também melhora a qualidade do ar, fator diretamente ligado à saúde respiratória da população. Em tempos de crescente preocupação com a poluição urbana, combustíveis menos poluentes tornam-se essenciais na construção de um futuro mais sustentável.

Foto: Reprodução/Abapa
Foto: Reprodução/Abapa

Como a Abapa Está transformando a Saúde com Algodão

A Abapa em parceria com produtores, investe constantemente em tecnologias que garantem o uso racional da água, redução de desperdícios e aproveitamento completo dos subprodutos. “Nosso compromisso é com a sustentabilidade. Queremos garantir que cada parte do algodão seja utilizada de forma eficiente e que nossos processos sejam benéficos tanto para o meio ambiente quanto para a sociedade”, afirma Luiz Carlos Bergamaschi, presidente da Abapa.

A Abapa também investe em pesquisas voltadas à melhoria da produção de algodão em condições climáticas adversas. Isso se materializa no apoio de estudos sobre técnicas de cultivo mais eficientes, como o uso de biofertilizantes e práticas de rotação de culturas, que visam melhorar a saúde do solo e a sustentabilidade a longo prazo. Com as mudanças climáticas impactando a quantidade de óleo extraído do caroço de algodão, a associação tem trabalhado em soluções para mitigar os impactos na produção.

Foto: Jhenifer Santos

A Tecnologia a Favor da Produção Sustentável

Com um regime climático predominantemente tropical semiárido, a região do oeste da Bahia, enfrenta uma estação seca prolongada e períodos de chuvas concentrados em determinados meses do ano. Para enfrentar os desafios impostos pelas mudanças climáticas, os produtores de algodão na Bahia estão adotando tecnologias inovadoras que ajudam a garantir a qualidade da matéria-prima. Sistemas de irrigação eficientes, técnicas de armazenamento de água e novas práticas agrícolas estão sendo implementados para aumentar a resiliência da produção.

Os sistemas de irrigação eficientes incluem o uso de técnicas como a irrigação por gotejamento e pivôs centrais. A irrigação por gotejamento, por exemplo, permite que a água seja aplicada diretamente às raízes das plantas, reduzindo o desperdício por evaporação e escoamento. Esse método aumenta a eficiência no uso da água em até 60%, em comparação com métodos convencionais de irrigação. “Muitos produtores, estão investindo em poços artesianos e técnicas de irrigação que utilizam a água de forma eficiente, mesmo em tempos de seca”, explica Gustavo Prado, diretor executivo da Abapa.

Entre os produtores está o Grupo Franciosi, que têm implementado práticas de irrigação por técnicas de armazenamento de água para garantir a eficiência no uso dos recursos hídricos. Essas iniciativas são parte de um esforço mais amplo para adaptar a produção de algodão às condições climáticas desafiadoras da região e garantir a sustentabilidade a longo prazo.  A sustentabilidade tem sido crucial para o sucesso da cotonicultura na Bahia, com práticas agrícolas que reduzem o uso de pesticidas e conservam recursos naturais, beneficiando a saúde pública e o meio ambiente. Essas medidas minimizam a exposição das comunidades a substâncias nocivas e criam um ambiente de trabalho mais seguro.

Para reduzir o uso de defensivos, os produtores adotam o manejo integrado de pragas e tecnologias de precisão, aplicando os produtos apenas quando necessário, o que diminui o impacto ambiental e otimiza o processo. “Reduzimos significativamente o uso de produtos químicos e introduzimos tecnologias que garantem a segurança dos nossos trabalhadores. Isso reflete diretamente na saúde de quem trabalha no campo e também na qualidade de vida nas fazendas de algodão”, afirmou Gustavo Prado, Diretor executivo da Abapa.

Gustavo Prado, Diretor executivo da Abapa – Foto: Reprodução/Abapa

Impactos Econômicos e Sociais

O setor de cotonicultura também tem um impacto significativo na geração de empregos e no desenvolvimento social da Bahia. A cidade de Luiz Eduardo Magalhães, localizada no oeste da Bahia, tem experimentado um crescimento econômico substancial desde o início do plantio de algodão nos anos 1990. De acordo com o IBGE, o setor agrícola, com destaque para a cotonicultura, tem sido um motor vital para o desenvolvimento econômico da região.

Em 2021, Luiz Eduardo Magalhães registrou um PIB de aproximadamente R$ 5,4 bilhões, com a agricultura contribuindo significativamente para esse valor. O crescimento da produção de algodão tem impulsionado não apenas a economia local, mas também gerado empregos e melhorado a infraestrutura da cidade. A produção de algodão na região também contribui para a formação de um mercado de trabalho robusto, oferecendo oportunidades em áreas como processamento, logística e comercialização.

Além disso, a venda dos subprodutos do algodão, como a torta que é um subproduto resultante do processo de extração do óleo das sementes de algodão. Após a extração do óleo, o resíduo sólido que sobra é compactado, formando a torta. Esse subproduto é altamente nutritivo, rico em proteínas e fibras, o que o torna um componente valioso na alimentação de animais, especialmente bovinos.

O Futuro Promissor da Cotonicultura na Bahia

A cotonicultura na Bahia caminha para um futuro marcado por inovações tecnológicas e práticas sustentáveis, respondendo aos desafios impostos pelas mudanças climáticas. A Abapa, junto com outros agentes do setor, tem desempenhado um papel crucial ao investir em pesquisa, educação e ampliação do mercado de subprodutos. A colaboração entre empresas, governo e produtores será determinante para consolidar a posição da cotonicultura como um motor de desenvolvimento econômico e sustentável, garantindo benefícios não só para o estado, mas também para o país como um todo.

Foto: Reprodução/Abapa

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