Na moda tudo é reciclado ou roubado? A estética Brasil Core sai das periferias e ganha visibilidade fora das comunidades.
Por Riane Bernardes
Chinelo no pé, camisa de time e penteados diferenciados, recentemente figuras da moda adotaram a tendência Brasil Core. A estética que surgiu nas periferias brasileiras, refletindo as cores da bandeira do Brasil, tem sido adaptada ao estilo de influenciadoras que usam esse vestuário com uma ideologia diferente da originária.
Em entrevista à CNN Brasil, a designer Mayra Souza dos Santos, aborda sobre a importância de entender o real significado da tendência para a população periférica, “o futebol para a periferia é sinônimo de sonho, só uma parte da população possui acesso a artigos originais”, afirma a designer.
É claro, que com a Copa do Mundo 2022 o uso desse visual seria comumente utilizado. Contudo, além de importante, é interessante entender como surgiu determinado aparato usado na moda. Afinal, nesse universo nada se cria, tudo se transforma.
Desse modo, quando o uso dessa tendência atinge um público distante da cultura em que ele surgiu, é preciso entender como esse produto ao ser comercializado perde a originalidade e quem serão os investidores e consumidores dele.
O símbolo de resistência ao ser inserido no mercado com valores altíssimos, limita o público que adquire esses produtos. Por isso, Gustavo Arruda, fundador do Comunicação de Quebrada, defende que são essas pessoas que têm acesso aos produtos, que apropriam-se de uma história que não é deles. Para trazer isso de volta em setembro deste ano, juntamente com amigos, ele produziu camisetas da seleção de maneiras acessíveis.
A confecção própria tem um design com cores da bandeira e desenhos que remetem ao futebol nas comunidades. São pequenos empreendedores como eles que impulsionam a visibilidade do Brasil Core contando a história que a tendência carrega.
É importante que mais brasileiros resgatem as cores da bandeira do país, mas é claro que apoderar-se de uma estética e adaptar ao próprio estilo exige estudo e reconhecimento de onde nasce essa cultura. Na entrevista ao CNN Brasil, Mayra completa: “Quando você se apropria de uma estética ou símbolo periférico e modifica tanto pra ser legal apenas em pessoas brancas e padrões, você anula todo o simbolismo existente, deixando invisível quem foram os principais precursores. A periferia tem muita potência de moda e beleza”.