Foto: Joá Souza/GOVBA

O Novo Ensino Médio está afetando o
desempenho dos ingressantes do ensino superior?

Escrito por: Amanda Cunha, Álvaro Cunha, Daniel Povoas, João Vitor, Caile Letícia, Jairo Adorno, Douglas Amâncio

A reforma curricular conhecida como “Novo Ensino Médio” entrou em vigor, oficialmente, no ano letivo de 2022 no Brasil. A reforma teve como objetivo estabelecer uma estrutura capaz de atender as necessidades dos alunos em relação a capacitação profissional através do aumento da carga horária escolar e pelos itinerários formativos, que seriam novas disciplinas da qual os estudantes poderiam escolher.

Os itinerários formativos são disciplinas além das que estão inseridas na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que devia possuir um caráter optativo pelos alunos e que forma 40% da carga horária colegial. Pela lei, toda escola deve ofertar ao mínimo duas dessas disciplinas.

A grande questão, desconsiderada pelo MEC (Ministério da Educação) antes dessa implantação, é de que muitos colégios, principalmente os públicos, não possuem suporte para tal sistema. Muitos colégios sofrem com falta de professor e material didático, infraestrutura precária e as próprias questões sociais de muitas famílias, impedem o estudante de se manter na escola.

As lotações nas salas de aula também impossibilitam os alunos de escolher o itinerário de seu interesse, resultando no efeito contrário a qual a proposta diz sobre a liberdade de escolha que supostamente melhoraria o desempenho dos estudantes. Os alunos passam a cursar o que tiver disponível na instituição.

Em entrevista com o professor de história de um colégio público de Salvador, Jorge Luiz, foi comentado por ele que muitos alunos do colégio em que leciona, ainda parecem não compreender completamente o que é afinal o Novo Ensino Médio.

As orientações foram passadas para os professores, mas não para os alunos. Se pedir aos alunos uma explicação sobre o que é esse Ensino Médio, eles irão dizer que apenas colocou disciplinas novas

Ele ainda ressalta que a carga horária dos professores aumentou, pois passaram a ensinar além da sua área, disciplinas da qual eles não dominam, sem nenhum tipo de experiência prévia. E apesar desse novo sistema ter aumentado a carga horária de 2400 para 3000 horas, as disciplinas bases sofreram redução de tempo.

O colégio público em que eu ensino só possui duas aulas de história por semana e no primeiro ano, apenas uma. Antigamente costumava ser três

Desigualdade social

Colegas meus que ensinam em colégios particulares em disciplinas como sociologia, filosofia e história, não tiveram a carga horária reduzida. Essa é a diferença entre o ensino público e privado

A fala do professor Jorge Luiz demonstra algo que o Novo Ensino Médio aprofundou no último ano, que é a desigualdade social entre alunos de colégios públicos e privados.

A carga horária nas escolas privadas ao contrário dos colégios públicos, aumentou ao invés de diminuir. Ao consultar alunos da rede pública e privada, as respostas foram discrepantes, com uma resposta favorável ao novo modelo de ensino sendo feita dentro do ensino público enquanto dentro da instituição privada, o novo modelo possui uma resposta desfavorável. Nos colégios particulares, as matérias da BNCC não diminuíram, mas a carga horária aumentou quando somada aos itinerários formativos. Já nos colégios públicos, as matérias de base diminuíram a carga horária para dar espaço para as matérias itinerantes. Ou seja, esse novo modelo educacional está oferecendo menos para quem precisa mais.

De acordo com uma pesquisa realizada entre estudantes que cursam o novo ensino médio, colocou-se em pauta suas experiências. E de acordo com a pesquisa, as formas de estudo foram afetadas em sua totalidade, obtendo respostas negativas e positivas as mudanças no estudo. Entre os entrevistados, todos concordaram que suas respectivas instituições de ensino ofereceram suporte ao novo modelo, no entanto as mudanças foram apresentadas de formas diferentes pelas instituições, sendo que diferentes alunos apresentaram opiniões controversas sobre a apresentação do modelo. O desempenho escolar dos alunos não se manteve de forma igual para cada entrevistado.

E apesar da diferença de opiniões sobre o novo modelo, todos os entrevistados apoiam a revogação do novo modelo de aulas. Questionados sobre a diferença entre ensino público e privado obtivemos respostas que confirmam que a desigualdade entre os dois aumentou com a implantação do novo modelo de ensino. Questionados sobre a importância do ensino médio, apesar das diversas perspectivas, todos reconheceram a importância dessa educação, mas nenhuma resposta foi conclusiva quanto ao impacto dessa reforma no desempenho previsto para o ensino superior.

E como fica o ensino superior?

O Novo Ensino Médio sempre teve como principal objetivo, capacitar os alunos para o mercado de trabalho. E inferiorizando a capacitação para o ensino superior. Muitos alunos, principalmente depois da pandemia de Covid-19, estão se sentindo cada vez mais desmotivados a continuar estudando, devido a dificuldade em que tiveram de manter um desenvolvimento positivo durante as aulas na quarentena, isso quando haviam aulas. No auge da pandemia, a pesquisa feita pelo Instituto Datafolha revelou que 54% dos estudantes estavam desmotivados a estudar, dados que alertam sobre a importância de evitar a evasão escolar, tópico que é de interesse até hoje.

O ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) por sua vez, não acompanhou as mudanças das reformas educacionais brasileiras e nem foi revisto mesmo depois do grande déficit da educação trazida pela pandemia.

O MEC havia dito que em 2024 aprova iria apresentar mudanças no formato para acompanhar a nova reforma curricular, mas no mês passado, voltou atrás na decisão e a prova do ano que vem irá continuar a ser no formato atual.

A nova prova iria apresentar perguntas personalizadas de acordo com a área escolhida pelo estudante. Contudo os alunos que pegaram o novo modelo, deverão fazer a prova tradicional. O que pode apresentar a discrepância na educação, pois aqueles alunos que tiveram na sua grade curricular, disciplinas básicas com redução de horas, irão se mostrar com mais dificuldades de fazer a prova, logo que o tempo é muito mais curto para dar a mesma quantidade de conteúdo ou até mesmo ocasionar a falta dele.

Quando perguntado a dois alunos, um sendo da instituição pública e o outro da instituição privada, sobre se a experiência de ter cursado o Novo Ensino Médio ajudaria a ingressar no ensino superior, nenhum dos dois respondeu que sim. Para os futuros estudantes universitários que passaram por isso, a dificuldade em suprir as demandas da universidade poderão ser maiores.

Confira o que os estudantes pensam do assunto:

Entrevistamos estudantes do ensino superior para discutir as mudanças recentes no sistema educacional brasileiro. Durante o vídeo, você verá as opiniões dos universitários sobre essa questão.

Para aqueles que querem tentar o ingresso no ensino superior, o ENEM é a porta de entrada, por isso um ensino médio de qualidade deve ser assegurado pelas entidades responsáveis. O acesso ao conhecimento não deve ser impedido nem negligenciado. Embora seja reconhecido que a educação brasileira necessite de mudanças, há opiniões divergentes sobre a eficácia das medidas implementadas até o momento.”



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