Por Maria Vitória e Flávio Lorrane
A eleição de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos reacendeu preocupações
sobre as políticas migratórias e seus impactos sobre as comunidades de migrantes. Frei
Lorrane Clementino, religioso franciscano, que em 2022 trabalhou em abrigos para
imigrantes no México, compartilhou reflexões baseadas em sua experiência, destacando os
desafios enfrentados por pessoas que buscam refúgio e oportunidades em meio a um
cenário de endurecimento das políticas de imigração.
A jornada dos migrantes no México
Durante sua missão em 2022, Frei Lorrane esteve em abrigos localizados próximos à
fronteira dos Estados Unidos, acolhendo migrantes de várias nacionalidades, incluindo
centro-americanos e até brasileiros. “Muitos chegavam exaustos após semanas de
caminhada, enfrentando a violência de traficantes, a fome e o abandono. Mesmo assim,
carregavam a esperança de alcançar uma vida digna” , recordou.
Ele destacou a presença de famílias inteiras, incluindo crianças pequenas, enfrentando
condições insalubres e os riscos de deportação. “Em cada rosto, havia uma mistura de
medo e sonhos. Eles sabiam que a travessia não garante sucesso, mas sabiam que não
havia outra escolha.”
A política migratória de Trump preocupa
A eleição de Trump traz de volta a retórica e as medidas de endurecimento das fronteiras,
como a continuação da construção de muros e a intensificação das deportações. Durante
sua administração anterior (2017–2021), Trump implementou políticas que geraram
controvérsias, como a separação de famílias e a prática de deter migrantes em condições
precárias.
Frei Lorrane alerta que esse cenário pode se agravar. “Essas políticas desumanizam e
criminalizam pessoas que apenas buscam sobrevivência. Isso não resolve as causas da
migração e cria um ciclo de sofrimento, principalmente para os mais vulneráveis, como
crianças e mulheres grávidas.”
Brasileiros em busca do sonho americano
O frei também relembrou casos de brasileiros que conheceu nos abrigos mexicanos em 2022 “Os brasileiros que conheci nos albergues estavam fugindo de perseguição do tráfico. Isso é muito lamentável, pois mostra a ineficiência das forças políticas com a segurança no nosso país. Eles seguiam os mesmos caminhos perigosos que os migrantes centro-americanos, enfrentando os mesmos riscos de exploração e deportação.”
Soluções para uma crise humanitária global
Para Frei Lorrane, a questão migratória não pode ser tratada apenas com repressão.
“Precisamos olhar para as raízes do problema, como a desigualdade social, a violência e a
falta de oportunidades. As políticas de desenvolvimento nos países de origem são
fundamentais, assim como o fortalecimento de programas de acolhimento nos países de
destino.”
Ele também defendeu o papel da sociedade civil e das organizações religiosas na busca de
soluções. “Os abrigos no México, muitas vezes sustentados por doações e trabalho
voluntário, são uma prova de que a solidariedade pode transformar realidades. Mas isso
não substitui o papel dos governos em promover políticas justas e humanas.”
Um chamado à empatia
Frei Lorrane encerrou com um apelo à compaixão. “Os migrantes não são números ou
ameaças, mas seres humanos com histórias, medos e sonhos. A eleição de Trump nos
desafia a lutar ainda mais para que essas pessoas sejam tratadas com a dignidade que
merecem.”
A experiência do frei no México é um lembrete de que a crise migratória não é apenas um
problema político, mas uma questão profundamente humanitária, que exige respostas
baseadas na justiça e na solidariedade.