Artes Marciais para crianças: a luta por um estilo de vida saudável

Por: Flávia Alexandre

Disciplina, equilíbrio, fortalecimento físico e bons relacionamentos sociais e interpessoais. Esse, com certeza, é o combo perfeito para pais e mães que ainda possuem filhos pequenos, em fase de desenvolvimento físico e emocional. Sabia que as Artes Marciais, quando atreladas à rotina de estudos, família e lazer, trazem todos esses benefícios para as crianças?

A modalidade esportiva é subdividida em diferentes estilos. Os principais e mais conhecidos são: Jiu-jítsu, Judô, Boxe, Karatê, Kung Fu, Muay Thai e Taekwondo.

Porém, mesmo com tantas complacências comprovadas, ainda existem diferentes opiniões sobre o assunto. O medo daqueles que se opõe a prática, se dá devido ao possível incentivo à violência, já que trata-se de um treino focado em lutas.

O professor de Judô e Karatê, Lucas Fonseca, faixa preta há 12 anos, explicou que a base para o treinamento é o autocontrole, fator que, para ele, já seria suficiente para invalidar a afirmativa de que a atividade interfere negativamente quando o assunto é controle emocional.

“A Arte Marcial ajuda a gente a desenvolver esse autocontrole de diversas formas. Porém, as duas principais maneiras são, em primeiro lugar, o alto gasto de energia. Já que estamos sempre fazendo força e suando, é uma atividade que desestressa muito e, desta forma, é mais fácil praticar o autocontrole”.

“Em segundo lugar, sempre estamos em situação de batalha, de luta […] Arte Marcial, em última análise, é uma ‘guerra’. Então, você tem que estar sempre se colocando nessa situação de estresse e de tensão. Dessa forma, se aprende a lidar com isso e, quando vier a entrar em uma situação desse tipo na vida real, a pessoa consegue fazer análises com mais calma, quando muita gente agiria somente por instinto”, declara.

Lucas afirma que os praticantes da modalidade também aprendem a lidar com as frustações, o que considera um fator positivo, já que muitas vezes a violência parte da insatisfação com algo ou alguém.

“É muito comum algumas crianças perderem alguma luta e xingarem ou chorarem. Existem esses dois sentimentos: ou a raiva, ou a tristeza, provenientes da frustração que é perder uma luta”, inicia.

“Como no ambiente das aulas irão existir várias lutas que serão perdidas, principalmente quando se é iniciante, você aprende a lidar com esse sentimento e, mais do que isso, você começa a aprender a avaliar de outro jeito essa derrota. Não como um sentimento somente de tristeza ou de raiva, e sim, com a seguinte pergunta: ‘O que essa derrota pode me ensinar? Por que eu perdi aqui?’ Então, isso ajuda muito no desenvolvimento das crianças”, enfatiza o mestre.

As Artes Marciais são orientais e, independente da sua origem, uma característica comum é a busca pela proteção, por meio do respeito, agente este que já é presente e indispensável nas turmas de treinamento. De acordo com o professor, o respeito não se dá somente com quem está a sua volta, mas, também, com o ambiente e os assessórios utilizados durante as aulas e campeonatos.

“Eles [os alunos] chegam no ambiente e cumprimentam o professor e os seus colegas com as reverências, antes de começar o treino tem a reverência inicial, depois, a reverência final. Antes de iniciar cada luta e termina-las, é preciso cumprimentar o adversário, independente de ganhar ou perder. Tem, também, a questão do respeito com o ambiente, o respeito com os aparatos que usamos, cuidar bem das faixas, do kimono […] Então, a Arte Marcial dá o senso de respeito e responsabilidade nos treinos e no dia a dia”, pontua.

Autocontrole, respeito, saber lidar com os sentimentos, sejam eles positivos ou negativos, bom senso, responsabilidade e, por fim, a capacidade de conseguir se defender quando necessário. Essas são apenas as principais qualidades que, quando bem desenvolvidas em sala, ajudam a formar bons lutadores.

“Somos contemplados com o benefício da defesa pessoal. Então, talvez, o receio de incitar a violência seja esse. Porém, juntando com todas as outras qualidades, ter o poder de se defender, muito provavelmente será utilizado de forma correta”.

“Assim, se um coleguinha estiver fazendo bullying na escola e quiser bater, por exemplo, provavelmente, a criança que pratica Arte Marcial vai simplesmente se defender. Ou seja, quando vier um agressor, ela vai saber preservar sua integridade física. Então, seria muito difícil a criança que faz aula ser a agressora. Porém, com a Arte Marcial, seria mais difícil ainda que ela fosse agredida, porque haveriam métodos de defesa”, conclui Lucas.

Para além de tudo que já foi citado, também existem os benefícios que qualquer outras atividades físicas trariam, como a tonificação dos músculos, aumento da densidade óssea, liberação de hormônios que fazem bem para o corpo e que trazem felicidade, aumento da capacidade pulmonar e qualidade de sono.

A modalidade e suas adaptações para o público infantil

Por estarem lidando com crianças, é preciso que os professores apliquem dentro das salas de aula metodologias de ensino que sejam adequadas à faixa etária de cada indivíduo. Desta forma, um treinamento para o público adulto não deve ser reproduzido com os pequenos. O aprendizado não pode ser algo desgastante e entediante, mas sim, lúdico e prazeroso.

“Existem três diferenças principais: a primeira delas é que, em uma aula para crianças, geralmente, acontece de nós, professores, adaptarmos os exercícios de uma forma mais lúdica, ou passar algumas ‘brincadeiras’ [que são treino]. Crianças, a depender da idade, ainda estão desenvolvendo ou terminando de desenvolver a coordenação motora. Então, diferente de um adulto, que, em tese, já tem a coordenação motora desenvolvida, já tem uma consciência corporal maior, a criança não só tem que aprender os golpes, como, também, precisam aprender sobre seus próprios corpos. Então, as brincadeiras ajudam
nisso”.

“Tem a questão, também, que a criança tem muita energia e elas não têm muito interesse com a Arte Marcial propriamente dita. Sendo assim, colocando uma brincadeirinha e adaptando o treino para ele ser mais lúdico, faz com que o interesse da criança aumente. O segundo ponto são as projeções das aulas. A criança, geralmente, precisa de mais tempo para ela aprender alguma coisa que o adulto aprenderia com mais facilidade. Porém, apesar de precisarem de mais tempo para aprender algo, eles tem uma facilidade maior de fazer aquilo com mais autonomia depois, já que o processo de memorização é mais fácil na infância”.

“O terceiro e último ponto, muito importante, é que crianças tem restrição de algumas técnicas de aprendizado. Ou porque são muito perigosas, ou porque carregam um risco maior no desenvolvimento, a exemplo de chave de braço e estrangulamentos. Crianças não podem aprender! Já são técnicas perigosas para um adulto, porque a pessoa pode desmaiar e ter alguma sequela ou algum problema pré-existente. Assim, existem técnicas que são proibidas para o público infantil”, conclui o professor Lucas Fonseca.

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