As consequências da enfermidade além da saúde dos brasileiros
Os casos de sarampo no Brasil apresentam constante crescimento após a queda nos números de vacinados contra a doença no país. Em 2021, apenas 50% do público alvo completou o esquema vacinal, fazendo com que os outros 50% do grupo alvo da vacinação estivessem desprotegidos contra o vírus.
Os impactos do aumento dos casos de sarampo tem preocupado a população que ainda vive em meio a pandemia da Covid-19, e, além das vidas ceifadas pela doença, precisam lidar com as consequências da enfermidade em outras esferas. Assim como o coronavírus, o contágio do sarampo também tem poder de reflexão na economia e política pública do Brasil.
Conheça a doença
O sarampo é uma doença provocada por um vírus do gênero Morbilivirus, sendo considerada uma infecção viral e aguda, é transmitida por meio de secreções das vias respiratórias, como gotículas eliminadas pelo espirro ou pela tosse. O tempo entre o contágio e o aparecimento dos sintomas é de cerca de 12 dias no corpo contaminado.
No Brasil, a grande explosão da enfermidade ocorreu em 1968, quando se tornou doença de cunho nacional, já que o país tinha registrado o primeiro surto da doença e diagnosticado 129.942 casos em solo brasileiro. Diante disso, houve uma mobilização para encontrar formas de controlar as transmissões e proteger a população, principalmente aqueles que ainda não tinham contraído a doença, visto que, a taxa de mortalidade para esses indivíduos era mais elevada.
Prevenção: A importância da vacinação
Depois de anos de estudos, a produção da vacina contra o sarampo ocorreu em larga escala e logo estava sendo aplicada na população, sendo a vacinação a única maneira de prevenção contra a doença. O residente de pediatria do Hospital Martagão Gesteira, localizado em Salvador, na Bahia, Rodrigo Bittencourt, afirmou que em seu ambiente de trabalho tem se intensificado a chegada do público infantil com suspeitas de contágio do sarampo, e, na maioria dos casos, essas crianças não estão devidamente vacinadas.
A vacinação contra o Sarampo faz parte do calendário de vacinação infantil, com doses gratuitas disponibilizadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para maior controle da enfermidade no país. O calendário básico possui duas vacinas contra a doença, sendo a primeira aplicada aos 12 meses (1 ano) de vida, em conjunto com a tríplice viral que protege também contra rubéola e catapora. Além da primeira dose, é necessário a aplicação da dose de reforço no bebê ao completar 15 meses de vida.
Ainda que o Brasil tivesse recebido o certificado de eliminação da patologia do sarampo, pela Organização Mundial da Saúde, em 2016, e, além da disponibilidade de doses distribuídas pelo SUS, nos últimos 10 anos os números de doses aplicadas no país seguem diminuindo. O reflexo disso é a volta do Brasil registrando casos dessa enfermidade. Foi divulgado que entre 2018 até 2021, foi comprovado quase 40 mil casos de sarampo no país, com 40 óbitos.
Para ilustrar esse comparativo da queda da vacina, em 2015 houve uma adesão de 96,1% para o público-alvo da primeira dose e 71,5% da dose de proteção. Porém, em 2021 a cobertura para a primeira dose foi de 71% e da segunda, de 50%. Dessa forma, pode-se dizer que no começo de 2022 existe metade do grupo-alvo sem a proteção de vida.
É valido lembrar que a vacinação na infância é defendida pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) que instituiu em 1990, a obrigatoriedade da vacinação das crianças em casos de doenças que são recomendadas pelas autoridades sanitárias.
Governadores procuram soluções para controlar o aumento de casos nas escolas
Devido ao cenário da baixa cobertura vacinal e, consequentemente, o aumento de casos, alguns governadores do país ligaram o sinal de alerta e resolveram adotar medidas para tentar conter um possível surto do sarampo nos seus estados. Dessa forma, o Ministério Público do Paraná aprovou a lei nº 19.534/18 que obriga a apresentação da carteira de vacinação no momento da matrícula escolar em todas as faixas etárias no ensino infantil, ensino fundamental e ensino médio. A lei afirma que caso haja alguma vacina obrigatória que não tomada pelo aluno, isso não impedirá o processo de matrícula, porém os responsáveis legais têm até 30 dias para regularizar a situação. Caso contrário, o Conselho Tutelar será comunicado para tomar as devidas providências.
Na cidade de São Paulo, a lei exigindo o comprovante de vacinação só foi aprovada em junho de 2020. A lei de nº 17.252 condiciona no momento da matrícula, em qualquer escola paulista, das redes pública ou particular, para alunos até 18 anos, a apresentação do comprovante de vacinação atualizado. A diferença da lei é que no estado paulista o prazo para regularização das vacinas obrigatórias é de até 60 dias.
“São Paulo registrou 14 mortes entre 15 mil casos de sarampo em 2019. Somente neste ano, foram mais de 170 ocorrências até fevereiro, de acordo com a Secretaria de Estado da Saúde. Isso é muito preocupante”
Kenny Mendes
O exemplo dos estados citados devem está refletido nas leis do Brasil para serem aprovadas em âmbito nacional, fazendo com que todos os estados do país tenham essa cobrança referente à vacinação infantil, a fim de evitar que uma possível epidemia do sarampo volte a fazer da vida da população brasileira, que já enfrenta a pandemia instaurada pela Covid-19 e as desigualdades sociais intensificadas nesse momento no país, após os dois primeiros anos da pandemia.
A influência do sarampo em âmbitos econômicos
Além do impacto nas baixas taxas de casos da doença, o saldo positivo relacionado à vacinação do sarampo não ocorre apenas na saúde. A economia brasileira também apresenta ganhos com o aumento da proteção da população contra a doença.
Esse fato ocorre devido a vacinação em massa apresentar diversos benefícios, não apenas se resumindo em prevenir doenças, mas também em aumentar a expectativa de vida da população. Assim, automaticamente os tornando indivíduos economicamente ativos e produtivos por um maior período da vida. É importante lembrar que em caso de uma pandemia, pode haver um aumento no número de pessoas doentes no país, os levando a deixar de trabalhar e podendo depender de auxílios governamentais. Dessa forma, influenciando diretamente na economia do país.
A vacinação contra o sarampo está presente na economia do país há algum tempo e causando impactos internacionais. No ano de 2013, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) anunciou uma parceria com a Fundação Bill & Melinda Gates, com o intuito de formular a primeira vacina brasileira – contra o sarampo – para enviar a países em desenvolvimento da África, Ásia e América Latina. O Ministro da Saúde da época, afirmou que cada unidade foi comercializada por US$0,54 (R$1,17) – na cotação daquele ano, sendo o menor preço do mercado mundial. Segundo Padilha, o investimento foi de R$13,3 bilhões em saúde que abrangia as vacinas. Além disso, a tecnologia desenvolvida beneficiou o mercado interno brasileiro na época, já que a produção de vacinação no Brasil gera contratação de empregos em áreas como biotecnólogos, biólogos, farmacêuticos, entre outros, diminuindo assim a taxa de desemprego no país.
Sendo assim, a proteção contra o sarampo atua além do setor da saúde, mas tende a movimentar também o setor econômico do país. Esse fato agrega ainda mais o objetivo da proteção com a aplicação de doses que podem salvar vidas ainda na infância. É fundamental a participação de país e responsáveis ao levarem seus filhos para receberem a primeira e segunda dose da vacina e combater a proliferação da doença. A informação verídica é que a vacinação salva vidas e isto não é descoberta dos dias atuais, é sempre importante reforçar essa ideia afim de combater notícias falsas.