Pesquisas por menores preços e substituição de produtos tem sido a melhor alternativa para consumidores
A economia brasileira e a de outros países tem sofrido diretamente os impactos causados pela guerra na Ucrânia. A alta nos preços de produtos e alimentos básicos, para o subsídio de milhares de famílias, em todo o país, tem dificultado, ainda mais, o acesso à uma alimentação de qualidade, considerado direito básico de todos. Em consequência, tem sido cada vez mais recorrente a substituição feita por produtos com menores valores.
Outros fatores, evidentemente, contribuíram para o declínio econômico em que o país se encontra hoje. Entre eles, mudanças consecutivas no Ministério da Economia, com trocas constantes de representantes do gabinete, em meio à uma das maiores crises sanitárias do mundo e de fronte à um déficit desproporcional da inflação e valores de produtos e serviços.
Muitos brasileiros e brasileiras precisaram abdicar daquela mesa farta e começar a consumir apenas produtos cujos valores coubessem no seu bolso. Alguns alimentos, considerados básicos, que sempre estiveram presentes nas refeições dos brasileiros, como arroz, feijão, macarrão, carne, leite, frutas e verduras, passaram a ser reduzidos ou , até mesmo, extintos dos pratos dessas pessoas.
A pesquisa por preços que contemplem o orçamento, tem sido a melhor e mais viável opção, durante as idas aos mercados e feiras. A partir daí, é avaliado a qualidade do produto e a relação de preços com os vendidos em outros estabelecimentos, por valores mais altos. Para muitos, mesmo fazendo a substituição, ainda houve comprometimento de suas rendas.
Como relata Maria Nice, professora aposentada, 56, de Barra do Mendes, cidade do interior norte da Bahia. “Percebi o aumento maior dos preços em 2021. O preço do arroz, café, óleo, leite e carne, tudo aumentou. Foi aí, que passei a substituir a carne vermelha por outros frios; frango, calabresa, ovos. Passei a utilizar o óleo do toucinho, ao invés do óleo convencional, por exemplo.”
Para Maria, a substituição na alimentação tem sido tranquila. Embora muitos alimentos importantes tenham sido deixados para trás.“A proteína da carne, leite e alguns vegetais, é muito importante para o fortalecimento do organismo. Mas, mesmo assim, o processo de substituição tem sido tranquilo. Sinto que dá pra ir disfarçando com uma coisa ou outra.” conta, a aposentada.
Ainda durante a sua entrevista, Maria traz um comentário sobre a dificuldade que os assalariados tiveram durante a pandemia. Cenário econômico difícil, que permanece até hoje. “Para os assalariados tá bem complicado, porque, infelizmente, o salário não acompanha a inflação. Por isso a necessidade de um maior planejamento ao ir ao mercado, feiras, comprar apenas o essencial, fazer as substituições e abdicar da aquisição de produtos que não sejam prioridades.”
Do outro lado, a situação se intensifica para comerciantes, que estão imersos nas altas dos preços e inflações e que, assim como o restante da população, precisa manter sua fonte de renda. Problemática social, que implica em colocá-los como responsáveis pelos altos índices, embora não sejam.
O João, 52, comerciante há mais de vinte anos, diz nunca ter presenciado aumentos tão significativos em suas mercadorias, como tem sido nos últimos tempos. Pra ele, a alternativa mais viável, é comprar produtos considerados básicos, desde frutas à alimentos não perecíveis, pois há a possibilidade menor de seus produtos ficarem “empacados” nas prateleiras.
“Para mim, é muito difícil continuar com as vendas, aqui no mercado. Passei por momentos de muita dificuldade, onde deixava de trazer certos alimentos, pois não estava saindo mais. Não adianta aumentar o valor da revenda e empacar aqui na prateleira. Foi aí que percebi que devia vender apenas o que estava saindo. Frutas caras, como morango, kiwi, pêra, amora, tem um bom tempo que não vejo.”
Outro fator evidenciado por João, é que, por conta da alta nos valores da carne vermelha, a venda de ovos foi algo que não sofreu impacto, durante a pandemia.“Hoje em dia mesmo, não é todo mundo que consegue comer carne toda semana. Aqui no mercado, na parte dos frios, precisei parar de comercializar alguns tipos de carnes, como a vermelha, por exemplo. Principalmente, no ano passado, quando foi mais difícil para todos. Percebi também, nesse período, que as pessoas estavam aumentando o consumo de produtos como ovos, calabresa, partes inferiores do animal, justamente por conta do valor ser reduzido e ser capaz de substituir a mistura”, relata o comerciante.
Perspectivas para a economia em 2022
Pesquisas apontam que, os resultados obtidos no primeiro trimestre de 2022 foram positivos, fazendo-se um referencial ao que foi projetado pelo governo federal e órgãos de pesquisa, com um crescimento econômico avaliado em 1,5% para o ano. Já a inflação, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA), revela que a inflação subiu para 7,90%, esse ano, contrariando as projeções feitas em março, onde foi aplicado apenas 6,55%.
A partir de convenções realizadas pelo governo, este ano, como corte do IPI, Auxílio Brasil e concessão de saques do FGTS, já foram investidos cerca de 258 bilhões de reais, este ano. O que representa cerca de 2,7% do PIB nacional. Em 2021, foram concedidos 167,4 bilhões (1,9% do PIB).
Para o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), órgão do governo federal, alguns setores, como o setor de serviços, teve um aumento significativo, por conta do afrouxamento de medidas restritivas da covid-19. Mas para outros, como o agropecuário, a situação permanece instável, e vem declinando, ainda mais, com redução de estimativa de crescimento de 2,8% para 1%. Um dos fatores que sugerem essa queda significativa no setor, é a baixa produção da soja, que caiu para 8,8%, mesmo com aumento de 3,3% de área plantada.
Na capital paulista, o aumento dos produtos básicos subiram em 48,5%. Commodities como soja, café, açúcar e carne, registraram as maiores altas no mercado. Situação que não se restringe à região sudeste do país, como apontam pesquisas.