Por: Aline Gama, Evellyn Teixeira, Lara Leticia e Rosa Raquel.
Durante a pandemia, as compras online se tornaram mais comuns, e mesmo depois que o estado de emergência da pandemia acabou, o e-commerce continuou faturando. De acordo com o relatório Webshoppers 46, no primeiro semestre de 2022, as lojas virtuais venderam R$ 118,6 bilhões, 6% a mais que o mesmo período de 2021, e um aumento de 18% de compradores durante o mesmo intervalo de tempo.
O e-commerce é a prática de comércio online para vender produtos ou serviços, e vem crescendo cada vez mais no cenário mundial, pois engloba também estratégias de divulgação. Ele funciona parecido com o atendimento em lojas físicas, a principal diferença é a falta de contato pessoal entre o comerciante e o cliente, toda a venda é feita de forma virtual, desde o anúncio dos produtos, o recebimento do pedido, o pagamento até o envio.
As mulheres representam a maior parte desse público, e seus principais interesses são: moda e acessórios, entretenimento e artigos para a casa. Essa nova forma de fazer compras entre os brasileiros é resultado não só da pandemia, mas também da inflação que impactou diversos clientes. A advogada tributarista Viviane Nogueira explicou que o principal efeito da inflação é a redução do poder de compra graças ao aumento das mercadorias e da desvalorização da moeda.
Com isso, as pessoas não conseguem comprar tanto, já que o salário passa a ser insuficiente para comprar a mesma quantidade de produtos que eram comprados antes. Além disso, a inflação aumenta o custo da produção porque há o aumento dos preços das matérias-primas. Tudo isso afeta o faturamento das empresas e pode resultar em seu fechamento”, esclareceu Viviane.
Contudo, durante a crise sanitária, esse cenário foi agravado também por conta do período de deflação, isto significa que o governo estava incentivando a população a comprar, abaixando o preço dos produtos, porém o poder de compra da população estava baixo, e então o governo providenciou a injeção de dinheiro, através do auxílio emergencial. Esse período de deflação no Brasil foi muito extenso, graças ao baixo consumo, resultado da quarentena e da não possibilidade de manter a mesma rotina de antes, o que fez com que as pessoas tivessem que se adaptar, e umas dessas adaptações foi justamente abraçar o mercado online, fazendo com que as lojas físicas fossem prejudicadas pela deflação do momento pandêmico.
Segundo o IBGE, a cada 4 de 10 empresas fecharam suas portas por causa do estado de emergência do coronavírus, isso significa que grande parte desses negócios já não estavam indo tão bem assim, e aqueles que não estavam preparados para vender no mercado digital, acabaram por só ter duas escolhas, a de fechar ou se reinventar, inserindo- se no mundo eletrônico.
Grandes lojas de departamento como C&A e Renner, tiveram prejuízos por falta de vendas já que o Brasil estava em plena crise financeira. Mesmo sendo grandes nomes do comércio, o que salvou as empresas de maiores impactos e mantivessem o índice de crescimento foi a digitalização e a diversificação dos canais.
A C&A, com o intuito de aumentar o alcance, não do online, mas das lojas físicas, levou unidades para fora dos grandes centros urbanos em todo o território nacional. Estratégias omnicanais (abordagem que foca no cliente e que unifica todos os canais de comunicação) como o atendimento via WhatsApp, Assistente virtual e o método de comprar online e retirar na loja física foram implantadas para ampliar as vendas.
A publicitária Isabella Santos, explica que essas estratégias de marketing são mais bem feitas no virtual, uma vez que o consumidor passa muito tempo online, o que o torna o melhor espaço para divulgar os produtos, entretanto ela destaca que não é interessante para a empresa manter os clientes apenas no digital.
“Muito do consumo de produtos vem das mídias digitais, mas existe uma teoria do ramo da publicidade que todas as empresas que não têm um foco no presencial e que tem o foco completamente no online, elas acabam falindo”, acrescenta a publicitária.
Em vista disso, o pós- pandemia mostrou que as pessoas voltaram a frequentar as lojas de departamento, o professor Morgado, da FGV EAESP explicou ao Meio&Mensagem o fenômeno: “O que aconteceu foi uma volta à normalidade das atividades das lojas. Isso explica bastante por que as lojas de departamento começaram a investir mais em comunicação para atrair público para as lojas físicas”. O professor ainda acrescentou que a maior influência para que isso aconteça, é porque se trata do setor de vestuário.
As pessoas voltaram para as lojas e os varejistas tentaram atrair consumidores para as lojas porque na loja a experiência de compra de vestuário é muito mais completa”, diz Morgado.
Ademais, o e-commerce acaba por ser mais vantajoso por apresentar mais opções, não só de produtos, mas também de lojas, já que permite compras internacionais. Todavia, essa possibilidade de comprar internacionalmente “quebra” o comércio nacional, e consequentemente a economia, já que não gera lucro para o Brasil. O que faz com que essa migração do varejo físico para o online, seja menos benéfico para o país, visto que está movimentado a economia estrangeira.
“O problema principal é a presença de lojas estrangeiras, como Shein e Shopee, que operam no Brasil, gerando lucros no exterior e não contribuindo para a economia nacional. Isso contrasta com empresas como Uber e Ifood, que, embora estrangeiras, empregam brasileiros. A predominância de empresas estrangeiras no mercado afeta negativamente o emprego e a economia local, pois os lucros são enviados para o exterior, desequilibrando o ciclo econômico”, explicou Diego Lázaro, profissional financeiro habilitado pelo CPA-10.
Atrelado a isso, a administradora financeira Eliane Cerqueira salienta que as empresas nacionais pagam muitos impostos e uma taxa tributária alta.
“Vale ressaltar que a importação contribui bastante, mas as empresas locais estão recebendo um impacto muito maior com essa carga tributária cada vez mais alta”, disse a administradora.
Para o consumidor Gabriel Ferrarezi, Engenheiro de Software, as lojas online representam praticidade e preços menores, mas não extinguem a necessidade de ir presencialmente comprar determinados produtos. Gabriel ainda enfatiza que certas experiências como ir ao um restaurante não podem ser substituídas pelo mundo online.
“Existem produtos como roupas por exemplo que são melhores para serem comprados presencialmente, e também há a experiência que restaurantes podem proporcionar, coisa que não é possível ainda no mundo online”, disse o consumidor.
Desse jeito, o e-commerce não determina o fim das lojas físicas. O fim delas acarretaria inúmeros problemas, como desemprego e uma marginalização ainda maior, pois pessoas que não tem acesso à internet e/ou moram afastadas dos grandes centros urbanos seriam seriamente prejudicadas, além de gerar uma crise no mercado imobiliário visto que um shopping perderia sua função o que levaria ao seu fechamento e por conseguinte, terrenos que se encontram perto do estabelecimento seriam desvalorizados.