Em lançamento do livro “O Negócio do Jair” a jornalista Juliana Dal Piva revela detalhes sobre sua apuração.

Reportagem por: Matheus Rocha

Na sexta-feira 13 de setembro, o Gabinete Português de Leitura promoveu o lançamento do livro “O Negócio do Jair” escrito pela jornalista Juliana Dal Piva, atual colaboradora do Instituto Conhecimento Liberta (ICL). Em bate-papo com a presença do jornalista investigativo Flávio Vm Costa e mediação do comunicador Flávio Novaes, os profissionais discutiram sobre o processo de pesquisa para a realização do livro.

Laçamento do livro “O Negócio do Jair” no Gabinete Português de Leitura – Foto de Matheus Rocha.

Em sua obra a escritora explica o surgimento da figura política de Jair Messias Bolsonaro no Rio de Janeiro nos anos 1990 por meio do escândalo das rachadinhas reveladas no ano de 2018. No centro do esquema de corrupção, a investigação sugere o desvio de verbas parlamentares por meio de supostos funcionários fantasmas. Com a alcunha de “Negócio do Jair” envolviam em sua gênese: os três filhos do presidente, duas ex-esposas e sua atual cônjuge, além de amigos e familiares.

Nem sempre uma investigação é iniciada com um caso criminal: durante a conversa, a antiga repórter de direitos humanos do Jornal O Globo, revela que ela cobria assuntos relacionados à ditadura militar e ainda não investigava questões sobre o ex-presidente, mas o conheceu como figura política dentro desse universo. Em um curto período de tempo, o então deputado federal começou a ser cotado para ser um dos futuros candidatos à presidência da República e a concorrer às eleições de 2018. Nesse momento, a jornalista passou a se interessar por conhecer profundamente o discurso do político: “Quando ele começa a despontar como futuro candidato a presidente, valendo-se de um discurso de ser fora do sistema e de não ser corrupto, esses fatores chamaram a minha atenção. Essas questões me fizeram cobrir de maneira mais sistemática os casos relacionados a corrupção e lavagem de dinheiro, começando assim a dissecar melhor esse personagem”.

Depois de realizar uma série de matérias no grupo carioca, a investigação se estendeu para o áudio, em podcast do grupo UOL. A jornalista realizou duas temporadas contabilizando oito episódios. Para realizar essa tarefa ela contratou um profissional de fonoaudiologia a fim de auxiliá-la no aprimoramento de sua dicção, permitindo que a mesma realizasse a narração de sua própria reportagem. Flávio Costa, seu colega no núcleo investigativo ressalta durante o bate-papo no gabinete que: “A Juliana está muito certa quando diz que Investigação não é necessariamente denúncia. Muito do que ela traz aí no podcast não é necessariamente algo que o Jair fez de errado, mas sim como ele pensa, como funciona a sua estrutura familiar e história. Isso revela muito sobre ele e não é um crime, pode-se então desenhar a forma como ele pensa e age.”

No interlúdio das temporadas, a comunicadora percebeu que haviam determinados assuntos que não funcionavam em um podcast, poderiam ser mais longos e detalhados em textos publicados em um livro. “O livro se assentou na minha cabeça, no podcast eu tinha que fazer um grande exercício  de  síntese. Existiam certas sobras no podcast que eu não conseguia transpor para um formato de áudio”. Para satisfazer seus anseios, contactou a editora Companhia das Letras que vislumbrou o potencial do seu projeto.

Para consagrar seu trabalho, sua obra derradeira ficou entre as  cinco indicadas ao eixo de não ficção no Prêmio Jabuti de 2023. O livro não ganhou o prêmio, no entanto a indicação à final da competição marcou a vida de sua autora:  “Uma das maiores alegrias com esse trabalho todo foi ter sido finalista do Prêmio Jabuti. Foi um sonho que aconteceu, eu não esperava e nem pensava em vender livros, nem em fazer sucesso, meu medo era cometer algum erro, pensava apenas em concluir o trabalho e que ele não fosse um fiasco”.

Em dedicatória escrita em um exemplar adquirido no bate-papo Dal Piva assina: Aqui tem a dedicação desta jornalista em ajudar a contar a história do nosso tempo. Em conformidade a sua dedicatória Juliana no princípio do diálogo com os presentes enfatiza: “Como jornalista a gente cobre muitas coisas difíceis. Sendo brasileiro, latino-americano, não temos como fugir das nossas questões”.

Dedicatória assinada no livro por Juliana Dal Piva.

Lançado em 2022 pela editora Zahar, empresa pertencente ao grupo Companhia das Letras, a obra enfim teve seu lançamento presencial na primeira capital do Brasil. Próximo da bancada de palestrantes foi instalado um ponto de vendas onde foram comercializados exemplares pela livraria baiana LDM, ao preço de R$89,90. Com suas 310 páginas, o registro compreende narrar a origem do patrimônio político e monetário do clã Bolsonaro.

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