Envolvimento político da geração Z: desconexão e novas formas de participação

Por: Jenifer Correia, Carol Queiroz, Pérola Achael e Vitória Fernandes

Seria a geração Z a mais engajada com os problemas políticos e sociais do mundo? ou uma geração falha sem conexão com a cidadania?

Dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), apontam que os jovens entre 16 e 24 anos, ou a chamada geração Z, de nascidos entre 1995 e 2010, nunca estiveram tão distantes da conexão partidária e política. Em 2022, último ano das eleições presidenciais, somente 182.217 mil jovens se filiaram a partidos. Um número relativamente baixo comparado ao ano das eleições presidenciais de 2010 com 467.875 mil afiliados.

Segundo a professora do Departamento de Geografia e Políticas Públicas da UFF, Soraia Marcelino Vieira em entrevista para O Globo, a geração Z entrou na vida política presenciando cenas de desesperança e desgaste político: “A pessoa estava entrando na vida política, a partir dos 16 anos, e vivenciando um momento em que parte significativa da sociedade estava manifestando o seu desafeto com relação à política e aos partidos”

Soraia se refere ao ano de 2016, onde o Brasil viveu uma crise política com a Operação Lava-Jato, o Impeachment da presidente à época, Dilma Rouseff, e as diversas manifestações contra e de apoio ao governo, que ocorriam pelas ruas das capitais. Outro escândalo que pode ser citação, dos dias atuais, é o indiciamento pela Policia Federal do ex-presidente Jair Bolsonaro, pela venda de joias do acervo presidencial.

13 de março de 2016 – Manifestantes protestam contra o governo Dilma Rousseff (PT), no Farol da Barra, em Salvador (BA). Foto: Sayonara Moreno/Agência Brasil

Polarização

Com a polarização na política que o Brasil vive há anos, no cabo de guerra entre a direita e à esquerda, os jovens tendem a se sentirem desconectados e geralmente possuem preferência em se distanciar do exercício da cidadania com medo de serem recriminados por suas escolhas políticas.

Exemplo disso, foram as eleições presidenciais de 2022, onde no segundo turno restaram apenas os candidatos Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL). Muitos jovens deixaram de exercer sua cidadania por conta dessa polarização.

“Eu não debato política com ninguém. Não dá em nada, é [somente] briga. Todo mundo sabe que no mundo [atual], o rico sempre vence. E sabe o que é pior? A direita está cada vez mais forte e se eu for à luta, só irei apanhar.”, explicou o estudante Carlos Pimentel, de 20 anos, que não se envolve em nenhuma área da política.

Ainda que em 2022, com o grande incentivo governamental e de influenciadores para que a geração Z participasse da política, dos 2.042.817 títulos de eleitores emitidos por pessoas de 16 a 18 anos, apenas 1,7 milhões, de fato, foram às urnas. O maior número de jovens votantes foi em 1922, com 3,2 milhões. Segundo dados do TSE.

De acordo com o vice-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro Edson Fachin, durante evento nesta sexta-feira (28), a polarização é o “mal do século”: “A atual polarização também sinaliza que estão em curso mudanças sociais tectônicas. A polarização pode ficar um pouco mais. É o mal do século. O antídoto está na política e não na violência”. 

Representatividade e Democracia

Segundo pesquisa do Instituto Ideia Big Data para o jornal O Globo, com 1.269 entrevistados em todo o país entre 3 e 7 de março de 2022, os jovens de 18 e 24 anos não consideram o regime político democrático como a melhor forma de governo.

Pesquisa feita pelo Idea Big Data para O Globo

Isso porque, em um cenário nacional atual onde há crises econômicas, com a alta do dólar e falta de representatividade nos candidatos às eleições, principalmente em cargos federais, os jovens se inclinam para o afastamento do regime democrático, além de desconsiderarem a sua participação ativa na política. 

Clara Conceição, de 26 anos, vice-presidente do Juventude do Partido Socialista Brasileiro (PSB), contou que possui muita dificuldade em trazer os jovens para a organização política: “Sinto muita dificuldade, desde o processo de captação ao de manutenção. [Eles] não se sentem pertencentes aos espaços – e isso se dá por um processo histórico, principalmente porque existe pouca representatividade das juventudes nos espaços da política. Ainda que isso tenha crescido em governos progressistas, não é tão expressiva a participação e legitimação dos jovens”. 

Os escândalos de corrupção, a exemplo de 2018, com a prisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e as políticas ou projetos de lei que vão contra a opinião popular como o PL 1904/2024, que equipara a pena do aborto ao de um estuprador, de autoria do deputado federal bolsonarista Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), lançam cada vez mais aos jovens o sentimento de aversão à política e de que, de fato, a democracia funcione como um regime que irá ajudar a população. 

“Há uma percepção distanciada da política, falta vínculo afetivo. Os jovens sentem que não há espaço para eles. Há a visão de que a política é corrompida por natureza, de que as instituições e os representantes estão lá para buscar seu próprio benefício e se preocupam pouco com a população. É a corrupção no sentido mais amplo”, disse a socióloga Esther Solano, professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), ao Jornal O Globo. 

Redes sociais e política

Uma das últimas grandes manifestações de rua, com estudantes reivindicando seus direitos e se envolvendo na política, foi há mais de uma década atrás, em junho de 2013, quando jovens inundaram as ruas de São Paulo, pedindo a princípio, pela redução da tarifa do transporte público, mas que posteriormente se transformou em diversos protestos em todo o Brasil, criticando os gastos excessivos para a Copa do Mundo de 2014, a corrupção na política e o governo da então presidente Dilma Rousseff (PT).

De acordo com o Relatório Digital 2024: 5 billion social media users, publicado em parceria entre We Are Social e Meltwater, o Brasil é o 2° país que mais utiliza a internet, cerca de nove horas diárias. Já nas redes sociais, os brasileiros passam cerca de 3h37min por dia.

Entretanto, não basta ser somente engajado nas redes. Segundo a doutora do Departamento de Ciência Política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo, Hannah Maruci Aflalo, para a revista USP de 2022, com a pandemia, os jovens desta década deixaram de ir às ruas: “O jovem de 2013 é totalmente diferente do jovem de 2022, porque o de 2022 se tornou jovem ainda na pandemia e ir para as ruas não era uma opção. Então para ele, o online não é outra vida, o online é a vida. Ali ele está se formando e vendo as possibilidades de ação”.

Em 2024, Clara Conceição, compartilha do mesmo pensamento de Hannah Maruci: “Existe hoje uma alta militância nas redes sociais e uma falta de vontade da militância real nos espaços da política. Muitos preferem estar levantando hashtags, o que de fato é eficaz no midiativismo e no impacto de grandes massas que utilizam as redes, mas não é o suficiente”, disse a jovem vice-presidente do Juventude PSB.

Clara, que é presidente do Juventude Baobá, ainda argumenta que os espaços físicos de militância e as redes sociais podem e devem estar coadunados: “Os espaços de política devem ter a comunicação das juventudes e estar receptivos a eles. E as redes sociais é um espaço estratégico é uma ferramenta que auxilia no processo de formação, mas não deve ser único”. 

Mas e os jovens que estão na política?

Camilo Aggio, Professor e pesquisador da Universidade Federal de Minas Gerais, argumenta com base em um projeto chamado “Juventude e Democracia na América Latina” que as pessoas e os jovens se interessam sim pela política e que: “O fato de se interessarem por outros temas e assuntos da vida, da cultura e do entretenimento não os faz seres alheios à vida política. O fato de o outro não pensar a política como você ou como você gostaria que ele ou ela pensasse não significa que ele ou ela pensasse não significa que ele ou ela ignore a política. Ao contrário”, escreveu ele para uma  reportagem do Jornal Carta Capital .

Já Clara Conceição diz que o interesse dos jovens na política e suas áreas ou lados está ligado intrinsecamente aos perfis, e que é difícil delimitar, de maneira geral, o que a geração Z não está interessada na política nacional: “Jovens das universidades tem mais vinculação e interesse com as políticas de permanência. Os empreendedores, as novas formas de vendas. Os das redes sociais, as tendências”, explicou ela.

Sob uma ótica mundial, 70% da geração Z afirma esta envolvida em alguma questão política ou social, aponta um estudo de  2022 com a participação de 20 mil jovens de 14 a 26 anos, de 14 países, incluindo o Brasil, publicado pela Edelman Data & Intelligence, intitulado Especial Trust Barometer: A nova dinâmica da influência.

Também é possível ver, com a guerra entre Israel e a Palestina, um grande número de jovens se mobilizando com a causa. Desde o dia 18 de abril deste ano, estudantes das universidades de Columbia, Harvard e Oxford acamparam em frente aos prédios principais das instituições, em forma de protesto, pedindo pela desvinculação a empresas israelenses, e o cessar fogo na faixa de Gaza.

Foto – Joseph Prezioso/AFP via Getty Images

Para acessar os dados estatísticos eleitorais e mensais do Tribunal Superior Eleitoral basta acessar: Estatísticas — Tribunal Superior Eleitoral (tse.jus.br)

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *