“Feira mãe”: a Feira de São Joaquim é resistência e cultura

A Feira de São Joaquim teve seu início por volta da década de 1960, embora suas raízes possam ser rastreadas até os antigos mercados de rua que existiam na cidade desde o período colonial. Inicialmente, a feira surgiu como um ponto de comércio informal, onde pequenos agricultores e comerciantes vendiam seus produtos diretamente aos consumidores.

Com o tempo, a feira cresceu e se tornou um importante centro de abastecimento para a população de Salvador, oferecendo uma vasta gama de produtos, desde alimentos frescos como frutas, verduras, carnes e peixes, até artigos de artesanato, ervas medicinais, roupas e utensílios domésticos. Este crescimento atraiu não apenas moradores locais, mas também visitantes de outros locais, consolidando a feira como ponto turístico relevante.

A Feira de São Joaquim é mais do que apenas um local de compras, é um espaço de encontro cultural onde tradições afro-brasileiras são vividas e celebradas diariamente. Muitos dos feirantes são afrodescendentes e mantêm práticas ancestrais como o uso de ervas medicinais e a preparação de comidas típicas da culinária baiana como acarajé, vatapá e moqueca.

Além disso, a feira é um ponto de referência para diversas manifestações culturais incluindo roda de capoeira, apresentações de samba de roda e outros ritmos tradicionais da Bahia. A religiosidade também está presente com a venda de artigos religiosos e a realização de eventos ligados ao candomblé e outras religiões de matriz africana.

A Feira de São Joaquim é um verdadeiro tesouro de Salvador, um lugar onde se pode vivenciar a essência da cultura baiana em sua forma mais autêntica. Através de suas cores, sons e sabores, a feira conta a história de um povo resiliente e criativo, que encontrou na diversidade e na tradição os pilares de sua identidade. A feira é, sem dúvidas, um patrimônio cultural e econômico essencial para a cidade de Salvador e seus habitantes.

Fomos até a feira para entrevistar e entender um pouco mais sobre a vida das pessoas que estão lá todos os dias trabalhando.

Seu Camargo (64) vendedor: é um homem que trabalha na Feira de São Joaquim há mais de 45 anos e tem uma loja de artigos religiosos de Umbanda e Candomblé. Os pais dele trabalhavam na feira desde o surgimento lá na década de 60, e crescendo, ele seguiu o legado da família e deu continuidade a feira. Ao ser questionado sobre a importância da feira em sua vida, diz ”criei meus filhos todos na feira, graças à Deus nunca faltou nada pra gente.” e complementa ”a feira é uma mãe, né? a mãe das mães.” Seu Camargo tem muita alegria e orgulho por ter atingido seus objetivos com esforço e suor de trabalho na feira.

Dona Regina (72) vendedora e técnica de enfermagem: começou na feira vendendo goiabas aos 20 anos e quando percebeu que estava lucrando bastante no ramo passou a vender frutas, legumes e verduras. Atualmente trabalha com bebidas e oferece uma variedade com mais de 120 opções de cachaças curtidas, entre elas cachaça com goiaba, jambo, jiló, jatobá, erva doce, etc. Aos 68 anos, ela seguiu seu sonho e se formou em técnica de enfermagem em 2020,mas por causa da pandemia não pôde exercer o ofício. Dona Regina é uma inspiração de resiliência que nos ensina a não desistir dos nossos objetivos, pois nunca é tarde para alcançá-los.

Sandoval (64) vendedor: Nascido em Nazaré das Farinhas, munícipio do interior da Bahia, veio para Salvador aos 15 anos de idade e começou a trabalhar na feira com seu irmão, logo depois montou seu próprio negócio. Atualmente vende artigos religiosos e de artesanato, mas já transitou por diferentes nichos de venda como bijuterias, condimentos, cereais, artigos para costura e armarinho entre outros. Seu Sandoval comenta sobre como a cultura da vem se perdendo e as novas gerações não querem dar continuidade com a produção e venda na feira: ” as pessoas não querem dar continuidade, antigamente o cara tinha um filho , ele era um exemplo. Trabalhava como funileiro, ele ensinava, trabalhava com artesanato em palha, ele ensinava… hoje em dia ninguém quer mais fazer essas coisas.” Apesar da queixa, Sandoval segue com felicidade mantendo o legado e a cultura viva que é a Feira de São Joaquim.

Três pessoas diferentes com histórias que se cruzam num só lugar, pela tradição e criação de suas famílias. Com determinação, força e esperança esses trabalhadores estão na feira fomentando a diversidade cultural e a economia da cidade de Salvador.

Por Geovanna Costa e Milena Santos

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