O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou, em novembro, os dados atualizados do Censo Demográfico 2022, que traçam um panorama sobre as favelas e comunidades urbanas no Brasil. Foram identificadas 12.348 favelas no país, abrigando 16.390.815 pessoas, o que corresponde a 8,1% da população nacional. Na Bahia, 9,7% da população, ou 1.370.262 pessoas, vivem em favelas distribuídas por 572 territórios em 28 municípios.
Favelas na Bahia e em Salvador
Salvador é o município baiano com maior número de favelas, totalizando 262 territórios, ou 45,8% do total estadual. Na sequência, aparecem Feira de Santana (49), Camaçari (47) e Lauro de Freitas (35). O número de cidades baianas com favelas quase triplicou desde 2010, subindo de 10 para 28 municípios.
Apesar do aumento na quantidade de favelas, a Bahia caiu no ranking nacional. Em 2022, ocupava a 8ª posição em número de favelas, atrás de São Paulo (3.123), Rio de Janeiro (1.724) e Pernambuco (849). Em 2010, o estado ocupava o 5º lugar.
Aumento expressivo desde 2010
O número de favelas na Bahia mais que dobrou em relação ao Censo anterior, passando de 280 para 572, um aumento de 104%. Mesmo assim, o estado registrou o 6º menor crescimento entre as unidades da federação.
O total de pessoas vivendo em favelas no estado também teve um aumento significativo, de 970.940 em 2010 para 1.370.262 em 2022, representando um crescimento de 41%. Apesar disso, a Bahia ficou em 8º lugar entre os estados com menor variação proporcional.
Crescimento em todo o Brasil
Os dados indicaram aumento no número de favelas e moradores em todas as unidades da federação. Estados como Roraima, Goiás e Tocantins lideraram o crescimento proporcional: em Roraima, o número de moradores em favelas aumentou mais de dez vezes, de 1.157 para 16.016; em Goiás, de 8.823 para 94.518; e em Tocantins, de 7.364 para 42.322.
No contexto nacional, a Bahia perdeu uma posição no ranking de proporção de moradores em favelas, passando de 6º para 7º lugar entre os estados.
Perfil da população em favelas
Em 2022, a população das favelas baianas era majoritariamente feminina, com mulheres representando 53,4% dos moradores (730.293 pessoas), acima dos 51,7% registrados na população total do estado. No Brasil, a tendência foi semelhante, com 51,7% dos moradores de favelas sendo mulheres, frente a 51,5% da população geral.
Em Salvador, as mulheres representavam 53,9% dos moradores de favelas, uma proporção ligeiramente menor do que os 54,4% da população geral da cidade.
Além de mais feminina, a população das favelas baianas também era mais preta. Quase 4 em cada 10 moradores das favelas do estado eram pretos (39,2% ou 537.063), em contraste com os 22,4% na população geral. Em Salvador, a proporção de pretos nas favelas era ainda maior, chegando a 42,2%, acima dos 34,1% registrados na população total da cidade.
Pouco mais da metade dos pretos que viviam em Salvador moravam em favelas: 435.515 pessoas, ou 52,8% das 825.509 pessoas pretas da cidade. No Brasil, 16,1% dos moradores de favelas eram pretos, comparados aos 10,2% da população total.
Avanços metodológicos
O aumento no número de favelas identificadas também reflete avanços metodológicos. Desde 2010, o IBGE passou a detalhar mais as informações sobre favelas. Em 2022, o órgão utilizou tecnologias como dados georreferenciados da ANEEL, imagens de satélite e ferramentas digitais para tornar o levantamento mais preciso.
Outro fator foi o diálogo com organizações comunitárias, que resultou na substituição do termo “aglomerados subnormais” por “favelas e comunidades urbanas”, valorizando o papel social e cultural desses territórios. Segundo Cayo Franco, coordenador de Geografia do IBGE, essa mudança reforça a proximidade do instituto com as comunidades, que também participaram do processo censitário.
“Nos anos que antecederam o Censo 2022 foi sendo ampliado o diálogo com organizações e entidades representativas das favelas e comunidades, que não só participaram da operação censitária, como atuaram na redefinição da terminologia utilizada pelo IBGE, que substituiu a designação “Aglomerados Subnormais” para “Favelas e Comunidades Urbanas””, disse.
A supervisora de disseminação de informações do IBGE na Bahia, Mariana Viveiros, destacou os novos dados. “É claro que a gente sabe que nem todas surgiram do nada entre 2010 e 2022. Algumas áreas talvez fossem muito pequenas em 2010 (com menos de 51 domicílios elas não entram como área de favela), cresceram ou podem não ter sido identificadas, sendo agora reconhecidas por conta dessas melhorias”, explicou.
Os dados ressaltam a relevância social das favelas no contexto urbano brasileiro e os desafios que ainda precisam ser enfrentados para garantir melhores condições de vida para seus moradores.
Desenvolvimento: Leonardo Oliveira e Ilary Almeida
Imagens: Deborah Freitas
Edição: Amanda Marinho
Orientação: Mariana Alcântara