Menos é mais, o algodão baiano produz mais em espaços muito menores

Reportagem por Álvaro Cunha Oliveira Dias

Foto por Álvaro Cunha Oliveira Dias

O algodão é uma planta frágil, apenas uma chuva pode estragar uma plantação inteira, por isso, a Bahia tem o clima ideal para o cultivo. No extremo oeste baiano existem dois períodos no ano, a época das chuvas e a da seca, o que permite que o algodão cresça com qualidade única, nascendo durante a seca, quando não chove, e com a cor branca, que só é possível por causa do solo baiano, mais claro e cheio de nutrientes.

A Associação Baiana de Produtores de Algodão (Abapa) usa o clima, de temperatura amena, e a terra com eficiência, com a rotação de culturas se plantam diferentes plantas além do algodão, que deixam o solo fértil. Para a irrigação os produtores de algodão criaram um programa para preservar nascentes de rios, que são usados nas plantações e ajudam a conservar a vegetação natural. Esse projeto levou a Abapa a ganhar, em 2020, o Prêmio ANA, organizado pela Agência Nacional de Águas, na categoria de “proteção e recuperação de nascentes na região oeste da Bahia”.

O oeste baiano também conta com o Aquífero Urucaia, a segunda maior reserva de água subterrânea do país, que abastece parte da irrigação das plantações de algodão. Os agricultores da região usam os rios e o aquífero para regar o plantio, o revezamento entre esses corpos de água e a restauração de nascentes permite que esse recurso tenha uma gasto reduzido, impedindo que as fontes sequem.

O espaço usado para produção de algodão no país é de apenas 0,2% do território nacional, nessa pequena parte do Brasil os produtores de algodão da Abrapa (Associação Brasileira de Produtores de Algodão) plantaram o suficiente para alcançar neste ano o 1º lugar entre os exportadores de algodão, ultrapassando os Estados Unidos, e também conseguiram o 3º lugar na quantidade de algodão produzido no mundo, apenas atrás da China em primeiro e da Índia em segundo. 

  • Algodão e o meio ambiente

Na Bahia, a Abapa está 100% de acordo com as normas do Código Florestal brasileiro, além de trabalhar com outras formas de preservação ambiental, como o plantio direto, que é feito com a rotação de culturas e pouca intervenção, permitindo maior preservação do solo. 

Outra forma com que os agricultores baianos interagem com o meio ambiente é pela preservação de maiores áreas da vegetação nativa do que se pede na lei brasileira. Os produtores agrícolas não podem usar o solo em que estão partes da vegetação natural, às mantendo preservadas para o benefício do solo, das plantações e do próprio meio ambiente.

De acordo com a vice-presidente da Abapa, Alessandra Zanotto Costa, que em breve vai assumir a presidência, a preocupação com o meio ambiente e a sustentabilidade tem aumentado entre os agricultores.

“Cada vez mais os produtores agrícolas têm se fortalecido em ações, em atividades que possam realmente estar ligadas diretamente ao meio ambiente”

Essa preocupação se percebe também pela empresa de sua família, a fábrica Zanotto Cotton, que trabalha com a limpeza e separação dos produtos do algodão, nela as máquinas são abastecidas com energia solar, não poluindo a natureza e economizando no uso de combustíveis.

Foto por Álvaro Cunha Oliveira Dias

  • Eficiência e qualidade de vida

Na Zanotto Cotton o algodão é separado, gerando produtos como óleo de algodão, caroço, ração animal, o próprio algodão que é usado em roupas e na medicina, e outros. Neste processo tudo é aproveitado, buscando a eficiência ao separar as partes da planta, para que nada seja desperdiçado. 

A certificação da ABR, Algodão Brasileiro Sustentável, é padrão nacional para que produtores de algodão possam comprovar que estão dentro das normas nacionais de respeito ao trabalho e ao meio ambiente, o selo de aprovação age em parceria com o BCI, Better Cotton Iniciative, certificação que permite que a plantação exporte para outros países. 

Em fala da vice-presidente do Abapa ela destaca como a ABR atua no estado, acima da média na classificação necessária para conseguir o selo, a Bahia se mantém como exemplo de preservação e sustentabilidade.

“A Bahia, ela tem se destacado muito, o programa Algodão Brasileiro Responsável, por exemplo, tem uma excelente atuação aqui na Bahia, ele está em mais de 90% dos produtores de algodão”

De acordo com pesquisa realizada pela Abrapa sobre a preferência de marca do consumidor se descobriu que 86% tem interesse por marcas sustentáveis, que respeitem os direitos trabalhistas e a preservação da natureza, que 60% deixariam de consumir marcas com problemas éticos e que 75% consideram consumir de empresas sustentáveis.

Essa pesquisa levou a Abrapa a criar o projeto “Sou de Algodão”, que mostra ao consumidor onde o algodão no produto foi plantado e se ocorreram problemas éticos ou de sustentabilidade na plantação, em busca de mais transparência e conexão com o comprador.

Os projetos relacionados à sustentabilidade ajudam não só na preservação do meio ambiente, como também à comunidade. Pequenos produtores e trabalhadores no agronegócio envolvidos nas ações sustentáveis têm seus direitos garantidos e conseguem mais oportunidades de crescer, sem precisar agredir a natureza. 

Foto por Álvaro Cunha Oliveira Dias

“Todos esses programas que estão direcionados à sustentabilidade, eles estão ligados a essa preocupação não somente com nosso estado, como também com o nosso país, e a Bahia com certeza tem muito a ganhar com isso”

A partir da fala da vice-presidente Alessandra Zanotto é possível fazer uma comparação entre o rápido crescimento do agronegócio e da economia no oeste baiano, A produção de algodão deu a possibilidade de crescimento e, acompanhando as preocupações com o meio ambiente, melhorou as formas de plantio, buscando eficiência e preservação.

Foto por Álvaro Cunha Oliveira Dias

Ainda sobre sustentabilidade, a vice-presidente reforçou as ações da Bahia em relação à preservação do meio ambiente.

“Um destaque disso, por exemplo, é o que está acontecendo agora no Brasil em relação às queimadas, a gente pode notar que a Bahia tem tido muito menos prejuízos com queimadas em comparação ao resto do Brasil. Então é isso, esse sinal que há sim, está sim acontecendo uma grande preocupação com o meio ambiente”

Como é evidente na fala de Alessandra Zanotto as queimadas recentes no país mostram que procurar formas sustentáveis de plantar não são apenas pelo meio ambiente, a humanidade faz parte da natureza, preservá-la é preservar nossa vida, seja cuidar do solo para colher, das águas para irrigar ou do algodão para se vestir.

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *