Durante o seu mandato, o presidente Jair Bolsonaro editou vários decretos flexibilizando o porte e a posse de armas no Brasil. Com essas medidas, o número de armas registradas de 2018 a 2022, aumentou 473%. O que significa que o país está cada dia mais livre para utilizar um objeto que cessa a vida de milhares de pessoas diariamente. Segundo o Sistema Nacional de Armas (SINARM) e o Anuário de Segurança Pública, somente em 2021, das 1.490.323 armas de fogo com registro ativo, apenas 384.685 estão ligadas a órgãos públicos como as Polícias Civil, Federal, Rodoviária Federal e Guardas Municipais, além de instituições como Tribunais de Justiça e Ministério Público.
Além disso, mais de 550 mil pessoas se registraram como CACs (Colecionadores, atiradores desportivos e caçadores) entre 2019 e junho de 2022. No mesmo período, houve um acréscimo de 591.058 registros de armas de fogo no Sistema de Gerenciamento Militar de Armas (Sigma). O fácil acesso às pessoas na utilização de armas como forma de “segurança pessoal”, se dá primeiramente ao livre acesso a elas. Considerando que a taxa de registro desses equipamentos é de apenas R$ 88,00, esse valor se torna simbólico em comparação com o preço de armas no Brasil.
A reportagem conversou com a professora Alenice Rocha, a docente trabalha em escolas públicas localizada em comunidades na cidade de Salvador e alega que se sente cada dia mais insegura e insatisfeita com a segurança pública:
Eu trabalho em uma escola em Salvador, em um bairro muito perigoso e costumo ouvir barulhos de tiros diariamente. É muito desesperador para mim que sou adulta, imagine para as crianças. Já cheguei aqui na escola com marcas de tiro da parede, perdi as vezes que as aulas foram suspensas porque não poderia entrar na comunidade, porque no dia anterior houve tiroteio, quantas vezes coloquei os meninos para deitar no chão por conta dos tiros, e todas elas imploravam para que saíssemos vivos. Sair de um lugar extremamente tranquilo que é Salinas para vim para cá me custou muito e ainda custa.”
A reportagem mapeou o nível de interesse da população brasileira em porte de armas no Google, é possível identificar que houve uma explosão no número de pessoas que pesquisaram o tema justamente no início do Governo Bolsonaro. “Vejo que depois que Bolsonaro entrou no poder as armas ficaram cada vez mais fáceis, tirar a vida do outro tem sido recorrente. Quanto mais corpos vão precisar morrer para que a gente possa compreender que as armas não são o melhor remédio nem para as crianças do bairro que leciono, nem para ninguém?. Mas os livros são, os livros sempre serão armas, é isso que ensino a eles.” afirma Alenice.
“Quanto mais corpos vão precisar morrer para que a gente possa compreender que as armas não são o melhor remédio nem para as crianças do bairro que leciono, nem para ninguém?. Mas os livros são, os livros sempre serão armas, é isso que ensino a eles.” afirma Alenice.
Esse cenário fica ainda mais grave quando mergulhamos na realidade das comunidades periféricas, de um lado está a violência do crime organizado e do outro, o Estado brasileiro com suas operações policiais que resultam na morte de milhares de moradores inocentes. Sendo assim, o anuário também fez um levantamento acerca da letalidade policial. De 2013 a 2021, mais de 43.000 pessoas morreram vítimas durante intervenções policiais. Quando entra o fator raça, este quadro fica preocupante, ainda de acordo com a pesquisa, 84,1% dos mortos eram negros.
Em 2021, o Brasil registrou 6.154 mil mortes devido a intervenção policial, dessas 84,1% eram negras e 15,8% eram brancas.