Os impactos na vida de pessoas com o Transtorno do Déficit de Atenção e seus processos de enfrentamento

Como crianças e adultos superam os desafios impostos pelo TDAH na vida cotidiana.

Por Amanda Passos, Maria Eduarda Gomes, Paula Almeida e Victória Souza  Salvador/BA – 10/10/2023


O transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), também conhecido como Distúrbio do Déficit de Atenção (DDA), é uma condição neurobiológica que se manifesta na infância e perdura a vida toda do indivíduo, sendo caracterizado pela desatenção, inquietude e impulsividade exacerbadas no paciente desde tenra idade.

No Brasil, de acordo com dados do Ministério da Saúde, estima-se que 7,6% de crianças e jovens com idade entre 6 e 17 anos possuem esse transtorno.

Quais as causas e os fatores de risco do TDAH?

“Desde de pequena eu sempre fui agitada, na escola sempre tive dificuldade em realizar as tarefas de casa, reprova nas matérias, frequentei psicopedagoga, porque só conseguia fazer a tarefa se eu tivesse alguém do meu lado. Na adolescência eu era muito impulsiva fazia tudo sem planejar” .”[…] Hoje sou adulta com TDAH confirmado por teste neuropsicológicos, indicado pelo meu psicólogo e trabalho. Faço uma outra pós em educação inclusiva. Já sofri preconceitos já pensei que não era capaz por conta do TDAH. Hoje sei que sou capaz e estou realizando um artigo que fala sobre o lugar social do adulto com TDAH” . – Fernanda Martins Castanheira.

Esse e outros depoimentos podem ser encontrados no site da Associação Brasileira de Déficit de Atenção, a fim de encorajar e dar visibilidade a outras pessoas que sofrem com o TDAH.

Apesar de ser bastante conhecido, poucas pessoas sabem de fato o que é o transtorno e como pessoas portadoras lidam com ele. O TDAH é, resumidamente, a alteração de neurotransmissores que atrapalham a passagem de informações pelos neurônios. A região mais afetada por esse desequilíbrio é a parte frontal do cérebro, justamente a responsável pela inibição do comportamento, a atenção, a memória e a organização.

Estudos indicam alguns fatores que podem auxiliar na predisposição ao distúrbio, sendo eles; a hereditariedade, o consumo de algumas substâncias na gravidez e, em poucos casos, o sofrimento fetal no parto. Não há evidências concretas que o TDAH possa ser causado por fatores externos, porém o transtorno pode ser intensificado por eles.

Diagnóstico e Tratamento

Em entrevista com a psicóloga Nina Machado, especialista em desenvolvimento infantil e plantonista do Centro Universitário Jorge Amado (UNIJORGE), ela explicou como o TDAH é diagnosticado e quais critérios são considerados para obtenção de um laudo médico.

Nina Machado

Não existem exames laboratoriais ou de imagem para diagnosticar o TDAH, então o diagnóstico é inteiramente clínico e é feito através de uma longa anamnese, que são as entrevistas clínicas, observação, uma avaliação comportamental, uso de escalas, inventários, questionários, ludoterapia, testes psicológicos, no caso de psicólogos e, para um diagnóstico cuidadoso, o ideal é que seja feito por uma equipe multidisciplinar que inclua psicólogo, neuropsicólogo, psiquiatra, neurologista e neuropediatra. É importante destacar também que o diagnóstico do TDAH não se faz apenas pela observação direta da pessoa atendida. Então, no caso de crianças e adolescentes, por exemplo, é essencial que esses profissionais se informem com o sistema de cuidadores e com os professores sobre o comportamento das crianças nesses outros contextos. ”

Nina também evidenciou que o tratamento deve ser multiprofissional:

[…] é importante que envolva profissionais da área médica, saúde mental e psicopedagógica. Geralmente o TDAH é tratado com a psicoterapia, mas, em alguns casos, tanto com crianças quanto em adolescentes, é realizado uma intervenção medicamentosa, pensando aí no bem estar dessa criança e em sua qualidade de vida.”

De acordo com a Associação Brasileira do Déficit de Atenção, a psicoterapia citada por Nina chama-se Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) e, no Brasil, ela é atribuída exclusivamente a psicólogos.

Impactos na vida diária: relações interpessoais, educação e estratégias de adaptação

O cotidiano de pessoas com o Transtorno do Déficit de Atenção pode ser constantemente afetado devido aos seus sintomas de desatenção, autocontrole e impulsividade, assim, impactando em suas relações interpessoais, bem como outras áreas de sua vida.

Em entrevista com o estudante de jornalismo, Rodrígo Oliveira, ele compartilhou sobre seu diagnóstico e como tem lidado com ele.

Além de Rodrígo, também entrevistamos Irene Mello, mãe do pequeno Miguel de 4 anos. Ela nos contou o motivo que a levou a investigar certos comportamentos do seu filho e buscar ajuda médica:

Ele não tinha foco nas brincadeiras, muito agitado, não queria obedecer as minhas ordens.”

A falta de acessibilidade nas escolas é uma das maiores dificuldades que Irene enfrenta:

[…] professora e diretora chamando o tempo todo para conversar. A escola infelizmente não tem preparo nenhum para lidar com crianças com TDAH. A forma de ensino não específica para eles afeta o desenvolvimento e o aprendizado.”

Apesar dos obstáculos, a busca por ajuda psicológica e o acolhimento da família são essenciais para o desenvolvimento, tanto de Miguel quanto de outras crianças.

O maior recurso que tenho são as terapias com psicólogas, psicoterapeutas e terapia ocupacional. Essa ajuda e esse apoio são bons, tanto para ele saber como ter autocontrole, interagir melhor com outras crianças e aprender a se comportar, como para mim, que sou mãe e cuidadora, aprender a forma correta de como lidar com ele e de como ensinar a ele. […] buscar apoio com terapias e não desistir do seu filho é fundamental, assim como mostrar para ele que ele é muito amado.”

Os perigos do autodiagnóstico

O autodiagnóstico do TDAH é uma prática preocupante que vem se tornando cada vez mais comum. Se diagnosticar sem o devido acompanhamento profissional e especializado pode resultar em consequências sérias para a saúde mental e o desenvolvimento daqueles que acreditam estar sofrendo desse transtorno. O TDAH é uma condição que requer uma avaliação por parte de profissionais de saúde capacitados, como psicólogos e psiquiatras, com base em critérios específicos de diagnóstico. Ao se autodiagnosticar, as pessoas correm o risco de negligenciar outros problemas de saúde que podem estar causando sintomas semelhantes, além de adotar estratégias de enfrentamento inadequadas, que podem não apenas prejudicar o verdadeiro tratamento, mas também piorar a qualidade de vida. Portanto, é crucial buscar orientação e suporte profissional.

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