O futebol feminino tem crescido de forma notável nos últimos anos, ganhando visibilidade e reconhecimento no mundo inteiro. A modalidade esportiva tem recebido investimentos crescentes em ligas e competições, e está atraindo mais público e mídia. Porém a luta por igualdade de condições e salários justos também tem ganhado força, reforçando a importância do esporte na promoção da equidade de gênero, já que antigamente mulheres eram proibidas de jogar futebol.
Por: Aline Gama, Evellyn Teixeira, Julia Caroline, Lara Letícia, Larissa Falcão e Rosa Raquel
Das Primeiras Partidas ao Proibicionismo
De acordo com Giovana Capucim e Silva, o futebol feminino chegou ao Brasil em meados dos anos 20, com registros das primeiras partidas simultâneas em São Paulo, Rio de Janeiro e no Rio Grande do Norte, muitas vezes em circos e festas juninas. Nessa época, o futebol praticado por mulheres era visto como uma performance, não uma competição séria. Até a década de 1940, o esporte era disputado informalmente, principalmente nas periferias, longe dos grandes clubes e ligas.
O preconceito estava profundamente enraizado. O futebol era considerado violento e adequado apenas para homens. Em 1941, sob o governo de Getúlio Vargas, o Decreto-Lei 3199, Artigo 54, proibiu as mulheres de praticar esportes considerados “não adequados à sua natureza”, incluindo futebol, halterofilismo, basebol e lutas. Esse decreto foi sustentado pelo discurso de que tais esportes poderiam comprometer a saúde física e mental das mulheres, além de sua capacidade reprodutiva.
A Luta Contra o Preconceito e a Repressão
Para as jogadoras da época, a repressão social e familiar era mais intensa que a própria concessão estatal. Como destacou a historiadora Giovana Capucim e Silva em “Mulheres Impedidas: A Proibição do Futebol Feminino na Imprensa de São Paulo”, os olhares reprovadores e os comentários negativos de familiares, amigos e companheiros eram uma barreira significativa.
O decreto foi revogado em 1979, mas o futebol feminino só foi regulamentado em 1983. Essa regulamentação permitiu a competição oficial, a criação de calendários, a utilização de estádios e a inclusão do esporte nas escolas. No entanto, mesmo após as regras, o futebol feminino continuava sem o apoio adequado de clubes e federações e sem investimentos substanciais.
O Renascimento do Futebol Feminino
Mesmo diante de todas essas injustiças históricas, as mulheres não desistiram de correr atrás de seus sonhos e seus direitos. E vem renascendo através de avanços notáveis na qualidade do futebol e no apoio de seus familiares e entes queridos.
Recentemente, a Seleção Brasileira de Futebol Feminino realizou amistosos em Salvador e Recife, com vitórias significativas contra a Jamaica, preparando-se para os Jogos Olímpicos de Paris 2024. A presença crescente da torcida nesses jogos foi um testemunho do apoio crescente ao futebol feminino.
O presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ednaldo Rodrigues, destacou a importância de descentralizar os jogos da Seleção Brasileira, trazendo partidas para outras regiões além do eixo Rio/São Paulo. Isso visa promover o esporte em todo o país e dar às jogadoras o devido reconhecimento
Desafios e Esperanças Futuras
“Precisamos fazer com que eles adquiram nossas camisas, com nossos nomes. É legal vir nos nossos jogos, com nossos nomes, jamais desmerecendo o que os homens já fizeram, mas é legal ver nossos nomes estampando camisas na arquibancada”, afirmou.
Rafaelle Souza, a zagueira baiana, também destacou a necessidade de maior apoio aos times femininos pelos principais clubes baianos, Bahia e Vitória. Ela acredita que, com melhores condições, mais jogadoras poderão alcançar níveis altos no futebol, seguindo seu exemplo.
Um futuro promissor
Tradicionalmente, o esporte tem sido associado a atividades masculinas, resultando em uma exclusão histórica das mulheres. Isso ainda se reflete na desigualdade de oportunidades, patrocínios e desenvolvimento de carreira no futebol feminino. No entanto, o cenário está mudando. A criação da Série A1 e A2 do Campeonato Brasileiro de Futebol Feminino, a obrigatoriedade de investimentos em times femininos por parte dos clubes masculinos e o aumento da visibilidade nas emissoras de TV são passos importantes.
A atuação de jogadoras brasileiras em clubes europeus e a participação destacada em competições internacionais contribuíram para a popularização e valorização do futebol feminino. A relação entre cultura e preconceito está sendo reconfigurada, e há uma oportunidade crescente para desafiar e mudar as percepções culturais, promovendo um ambiente mais inclusivo e justo para as jogadoras.
O futebol feminino no Brasil tem uma longa jornada de superação e conquistas, e a luta por igualdade e reconhecimento continua. Com o apoio crescente e as mudanças culturais, o futuro do futebol feminino brasileiro promete ser ainda mais brilhante.