Terra de campeões: A Bahia como templo de boxeadores

A Bahia, maior estado do Nordeste do Brasil, destaca-se por sua rica pluralidade cultural e resistência diante de adversidades políticas e socioeconômicas. Esse contexto impulsionou várias formas de expressão, incluindo o boxe, que encontrou na Bahia um terreno fértil para crescer.

A história dos esportes de luta na Bahia remonta ao período colonial, quando as artes marciais africanas, trazidas pelos escravizados, começaram a se mesclar com as práticas europeias e indígenas. A capoeira, por exemplo, é uma manifestação cultural que se consolidou na Bahia, tornando-se não apenas uma forma de luta, mas também uma expressão artística e de resistência cultural. 

Com o passar dos anos, outros esportes de luta começaram a ganhar espaço no estado. O judô e o caratê foram introduzidos por imigrantes japoneses e rapidamente conquistaram adeptos. No entanto, foi o boxe que realmente encontrou um solo fértil na Bahia, impulsionado por figuras carismáticas e talentosas que elevaram o estado ao panteão dos grandes nomes do boxe brasileiro.

A chegada do Boxe na Bahia

O boxe chegou à Bahia no início do século XX, inicialmente através dos marinheiros e imigrantes que traziam consigo essa prática esportiva. Nas décadas de 1930 e 1940, o esporte começou a se estruturar de forma mais organizada com a criação de academias e clubes de boxe em Salvador, a capital do estado. A cidade rapidamente abraçou a nova modalidade, o boxe baiano começou a ganhar notoriedade com a ascensão de atletas talentosos que se destacaram em competições nacionais.

Em entrevista à equipe de redação, o presidente da Federação Baiana de Boxe, Afonso Carlos Abreu Nunes, contou sobre como o órgão atua no estado e sobre os atuais atletas registrados na Bahia atualmente. Segundo o próprio, atualmente a Bahia conta com 95 academias de boxe registradas que contam com o apoio de cursos, palestras, seminários, declarações e documentações, entre outros, totalmente oferecidos e ministrados pela federação.
Afonso também conta que no cenário atual os centros de treinamento da Bahia contam com cerca de cerca de 400 alunos, que recebem fomentos do órgão, como passagens, uniformes e ajuda de custo para alimentação e locomoção dos atletas nas viagens para campeonatos brasileiros.

Os Deuses Baianos

Dois dos cinco campeões mundiais de boxe do Brasil são baianos, e o estado é responsável pela metade das medalhas olímpicas do país, um testemunho da força e da tradição do boxe baiano.


O boxeador baiano mais presente na mídia atualmente é Acelino “Popó” Freitas, que se tornou tetracampeão mundial, conquistando títulos nos pesos super-pena (WBA e WBO) e peso-leve (WBO). Com um cartel impressionante de 41 vitórias (34 por nocaute) e apenas 2 derrotas, Popó fez sua última luta oficial em 2017. Atualmente, ele participa de lutas de exibição contra celebridades, mantendo-se ativo e notável.

Outro notável campeão mundial baiano é Valdemir “Sertão” Pereira. Em 2006, ele conquistou o título do peso-pena (57kg) da IBF. Embora tenha perdido o título no mesmo ano após uma desclassificação contra Eric Aiken, Sertão se aposentou em 2007 com um respeitável cartel de 24 vitórias e apenas uma derrota, após ser diagnosticado com hepatite C. 
Procurado pela redação, Sertão contou sobre sua trajetória e como seu exemplo serve de espelho para jovens no cenário atual do boxe. Ao falar sobre sua história, o atleta revelou a nossa equipe que na infância dividia seu tempo entre treinos e trabalho para ajudar a família em casa.

“Comecei a treinar com sete anos de idade, vendia picolé e pegava a feira junto com três indivíduos que quebraram minha caixa de sorvete. Entrei numa academia falei com o professor que eu queria ser lutador, mas eu queria vingar o meu roubo”

Através desta oportunidade, Sertão começou a treinar e assim enfrentou adversários, com resultados positivos, o atleta saiu de sua cidade Natal e veio para Salvador, onde encarou novos desafios e oponentes. Depois de muita preparação seguiu para São Paulo, disputou campeonatos e virou destaque entre os boxeadores, recebendo uma proposta para se mudar de vez e assim seguir a carreira por lá.
“Um rapaz chamado Seu Calouro ligou e perguntou se eu queria ir embora para São Paulo, não pensei duas vezes. Minha mãe não queria me largar para eu ir para São Paulo, disse que eu não conhecia nada lá, falei com ela que eu ia correr atrás dos meus sonhos e ia comprar uma casa para ela e eu consegui, através do esporte eu realizei meu sonho”, contou o atleta.

Sertão acredita que um bom atleta deve manter seus princípios, ser obediente aos pais e focar nos objetivos da vida e no boxe, ele ainda afirma que na Bahia existem muitos talentos para a modalidade que precisam apenas de apoio para seguirem seus sonhos.

“Na Bahia tem uma safra de campeões, só precisa de mais oportunidade. Que eles nunca desistam dos sonhos e da humanidade da onde eles vieram! Eu vim de baixo e cheguei no top onde eles também conseguem, basta focar nos seus objetivos..”

Reginaldo Holyfield, outro ícone baiano, é lembrado não só por seus títulos, incluindo seis campeonatos brasileiros e quatro sul-americanos, mas também por sua rivalidade histórica com o pernambucano Luciano Todo Duro. Essa rivalidade gerou momentos memoráveis tanto dentro quanto fora do ringue, consolidando Holyfield como uma figura lendária no boxe brasileiro. 

O mais recente campeão olímpico brasileiro é Hebert Conceição, também de Salvador. Ele conquistou o título na categoria peso médio (75kg) nas Olimpíadas de Tóquio, em 2021, ao nocautear o ucraniano Oleksandr Khyzhniak na terceira rodada. Hebert fez a transição para o boxe profissional, onde permanece invicto com 5 vitórias, sendo 3 por nocaute.

  • Joílson Carolino de Santana, primeiro baiano a competir nas Olimpíadas em 1988, Joílson é dirigente da Federação Baiana de Boxe.
  • Robson Conceição, que conquistou a medalha de ouro em 2016. Com 17 vitórias, 2 derrotas e 1 empate, se profissionalizou e disputou o título mundial da categoria super-pena.
  • Bia Ferreira, filha do boxeador Raimundo “Sergipe” Ferreira, conquistou a medalha de prata nas Olimpíadas de Tóquio em 2021 na categoria peso-leve. Ela é bicampeã dos Jogos Pan-Americanos (2019 e 2023) e do mundial amador (2019 e 2022). Na carreira profissional, Bia está invicta com 4 vitórias.
  • Adriana Silva fez história ao se tornar a primeira mulher brasileira a conquistar uma medalha olímpica no boxe, levando o bronze na categoria peso-leve (60kg) nos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012. Ela se aposentou do boxe profissional em 2022, aos 40 anos.


A Construção dos Louros

O crescimento do boxe na Bahia não se deu de forma isolada. Ao longo dos anos, o estado tem investido de maneira significativa em infraestrutura esportiva, políticas públicas e programas de incentivo que têm sido fundamentais para o desenvolvimento de diversas modalidades, incluindo o boxe. Essas iniciativas visam não apenas a formação de atletas de alto rendimento, mas também a inclusão social e a promoção de saúde e bem-estar entre os jovens baianos. 

O governo baiano, em parceria com entidades esportivas e a iniciativa privada, tem investido na construção e modernização de centros esportivos, ginásios e academias especializadas. A criação de espaços como o Centro Pan-Americano de Judô, em Lauro de Freitas, e a revitalização de clubes tradicionais em Salvador demonstram o compromisso do estado com o desenvolvimento esportivo.
Além da infraestrutura, a Bahia tem implementado políticas públicas focadas no esporte como ferramenta de inclusão social. Programas como o “Esporte e Lazer da Cidade” (PELC) e o “Segundo Tempo” buscam democratizar o acesso às práticas esportivas, oferecendo atividades gratuitas para crianças e adolescentes de comunidades carentes.

Coolaboração e escrita por: Alice Kalik, Douglas Reis, Jorge Bahia, Paloma Matos, Roberta Piancó e Ricardo Magalhães

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