A MECANIZAÇÃO DO CAMPO: COMO A PRODUTIVIDADE DO ALGODÃO VEM CRESCENDO DESDE 1999

Por Ananda Costa

18/09/2023

Quando o assunto é algodão, o primeiro pensamento que vem à cabeça são aqueles famosos bolinhos encontrados no supermercado ou na farmácia, que servem para tirar o esmalte da unha e limpar alguma ferida, por exemplo. Ou então, as roupas super macias usadas para ir trabalhar, sair ou até mesmo ficar em casa. Mas, você sabe algo além do algodão?

O algodão passa por grandes processos antes de se tornar tecidos, redes de pesca, absorventes ou até dinheiro. Desde a plantação até a industrialização do algodão, o uso de máquinas se faz presente durante todo o processo. Com a mecanização agrícola, é possível adquirir uma maior produtividade e otimização, tanto de tempo quanto de serviço.

Com o avanço da mecanização no Brasil, de 1977 até 2023, a produção aumentou mais de 400%, mesmo com a diminuição de 60% da área ocupada. Além disso, o número da produtividade aumentou em 1.171%, passando de 143 para 1.821 quilos por hectare. Atualmente, 15% da indústria têxtil nacional está concentrada nas regiões norte e nordeste, sendo que, dos 125 produtores, 90% são exportadores.

Dados ABAPA

Na Bahia, o histórico de produtividade vem crescendo desde 1999, tendo seu primeiro grande pico nos anos 2000/2001 com 193,3 em 50 mil hectares. No último ano registrado, em 2021/2022, a produtividade aumentou para 277,6 em uma média de 300 mil hectares, um grande avanço após 20 anos.

Dados ABAPA

Desde 2019, o Brasil vem crescendo em relação ao valor da exportação do algodão. Em 2022, o país conseguiu um recorde, chegando a quase 4 bilhões de dólares, um cenário totalmente diferente de 1998, quando a importação era o seu principal objetivo. Atualmente, o principal destino da exportação do algodão brasileiro é a China, com 405 mil toneladas, e Bangladesh, com 218 mil toneladas.

Contextualização

O plantio do algodão acontece há milhares de anos com os Incas e outras civilizações que viam o grão como uma forma de produção de tecidos. Antes mesmo da descoberta do Brasil, os indígenas que habitavam neste território já usavam os fios e as fibras do próprio algodão para a produção das redes de pesca. No entanto, a produção comercial só viria a acontecer no século XVIII nas regiões do nordeste, principalmente por conta de suas terras. Com o passar dos anos, já em 1974, a região se tornou a quarta maior produtora do país, possuindo mais da metade dos hectares do Brasil.

Mesmo com uma grande produção, devido à pouca tecnologia e, consequentemente, baixa produtividade, ocorreu uma grande perda na plantação de algodão com a chegada do inseto bicudo-do-algodoeiro, deixando mais de 800 mil postos de trabalho no campo ociosos. Até os anos 1990, a produção era em pequena escala, com baixa tecnologia e pouca gestão, tornando-se o segundo maior importador de algodão do mundo em 1996 e 1997.

Com os avanços da tecnologia, a partir de 1999, a colheita de algodão passou a ser mais mecanizada, substituindo a mão de obra do campo por máquinas especializadas. Dessa forma, o algodão no Brasil passou a ser produzido em larga escala e alta tecnologia, tornando-se o segundo maior exportador do mundo.

Mão de Obra no Campo

Desde a antiguidade, o plantio de algodão era realizado por pessoas mais humildes, que não tinham condições e nem estudo. Esse trabalho mais bruto, sob o sol quente e em situação análoga à escravidão, era bastante desvalorizado e humilhante para esses trabalhadores. Muitos tinham que trabalhar por uma longa jornada de horas para lidar com a quantidade de plantio em cada hectare.

Ao longo dos anos, e com o aumento significativo da produção de algodão, esses trabalhadores foram sendo substituídos por máquinas agrícolas para poder dar conta da grande produção em grandes hectares. No entanto, essas pessoas não foram deixadas de lado e sem emprego. Com o avanço da tecnologia, houve a necessidade da profissionalização desses trabalhadores, para que, em vez de lidar diretamente com o campo e com um trabalho mais bruto, se tornassem operadores dessas máquinas. Segundo a Vice-Presidente da Associação de Produtores de Algodão (ABAPA), Alessandra Zonotto, para trabalhar no campo, é necessário ter estudo e uma especialização.

“Antigamente, quem não queria estudar ia trabalhar na roça. Hoje, para trabalhar na roça, você precisa estudar. A inovação já é uma realidade” – Afirma a vice-presidente.

A ABAPA, com o intuito de ajudar esses trabalhadores, possui um Centro de Treinamento e Tecnologia voltado para oferecer serviços nas áreas de:

  • Mecanização Agrícola;
  • Movimentação de Cargas;
  • Educação Continuada (EJA);
  • Programa Educacional Conhecendo o Agro;
  • Florestal;
  • Beneficiamento, Automação e Análise da Fibra do Algodão;
  • NR’s – Saúde e Segurança do Trabalho;
  • Siderurgia;
  • Informática;
  • Rodoviário;
  • Tecnologia em Pivôs Agrícolas;
  • Aviação Agrícola e suas Tecnologias;
  • Tecnologia em Pneus Agrícolas e Rodoviários;
  • Controle, Redução e Monitoramento de Poluentes para Veículos a Diesel.

Desde o início do centro, mais de 3.668 treinamentos já foram oferecidos e mais de 83 mil participantes foram contemplados. O presidente da ABAPA, Luiz Carlos Bergamaschi, informou que, atualmente, não seria possível ter pessoas trabalhando no campo devido à quantidade de algodão produzida por safra e, mesmo com um avanço nos treinamentos oferecidos, a mão de obra ainda é escassa.

“Até agora, não temos mais pessoas trabalhando no campo; as máquinas substituíram essas pessoas. Não teríamos pessoas suficientes para a quantidade de quilos que produzimos por hectare. Essas pessoas foram treinadas e qualificadas para operar as máquinas. Hoje, enfrentamos escassez de mão de obra” – Diz o presidente da ABAPA.

O operador de máquinas, Roberto Silva Goes, conta que começou a trabalhar em 1993 e, até hoje, participa da safra de grãos em vários lugares, inclusive em Luis Eduardo Magalhães. Ele recebeu todo treinamento e preparação para trabalhar na área em que atua. No entanto, esse relacionamento com o agro já está na genética, pois o seu pai trabalhava diretamente com o campo.

“Meu pai dizia que colhia algodão manualmente, com cestos. Hoje, com essas máquinas, está sendo muito bom, e acredito que será ainda melhor”.

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