Como a cotonicultura exibe a qualidade, transparência e sustentabilidade na sua produção
Por: Acácia Vieira
18 de setembro de 2023
A produção de algodão do Oeste Baiano tem ganhado cada vez mais espaço nas empresas têxteis do Brasil. Por estar numa região que se destaca não apenas por sua beleza natural, mas também por seu volume significativo de produção de algodão, o município de Luís Eduardo Magalhães coloca o Brasil como o segundo maior exportador da fibra no mundo, baseando-se nos pilares da qualidade, transparência e sustentabilidade.
Conhecido como “ouro branco”, devido ao alto valor agregado em todo seu processo de produção, o algodão produzido em solo brasileiro aprendeu a se adaptar ao sol inclemente dos sertões do país. Na condição de ser uma planta que desabrocha suas raízes nos solos em busca de água, quanto mais quente as temperaturas, mais resplandecente será a sua cor branca.
A ligação da Bahia com algodão se deu no início do século XX, período em que a produção começou a ganhar mais destaque na região. Embora a cotonicultura já fosse realidade em outros estados do Brasil, como o Mato Grosso – atualmente maior produtor de algodão do país -, o rápido desenvolvimento da agricultura no Oeste baiano o transformou em um grande polo produtor.
Fundamental no processo de desenvolvimento da cotonicultura, a Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa) – criada em 2001 para representar os interesses dos produtores da região – trabalha lado a lado com o compromisso de impulsionar a economia local. De acordo com Luiz Carlos Bergamaschi, presidente da instituição, desde o início da produção de algodão no estado, a vida do produtor tem sido transformada significativamente.
“A produção de algodão sempre fez parte da história da Bahia, mas foi por volta dos anos 2000, com a introdução da cultura no Oeste do estado, que ela se modernizou, atingiu níveis recordes de produtividade e sustentabilidade, e vem contribuindo, decisivamente, para o desenvolvimento regional e da economia baiana como um todo”, destaca.
Compromisso com a qualidade
Seja para a distribuição interna ou para a exportação, é essencial assegurar que o mercado conheça a origem e o detalhe do processo. Da lavoura até a indústria, abrangendo os recursos envolvidos do cultivo ao tratamento, a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) estabeleceu etapas para que as fibras pudessem ser promovidas e classificadas de acordo com sua qualidade.
Fundamental na cotonicultura brasileira, o Centro de Análises de Fibras da Abapa não é apenas uma referência regional, mas também o maior centro de classificação de plumas da América Latina. Com a utilização de um equipamento de alta tecnologia chamado High Volume Instrument (HVI), é possível identificar características essenciais para as fibras de algodão, como, por exemplo, resistência e tipo.
A qualidade do algodão baiano atrai cada vez mais a atenção de compradores internacionais, com taxa de exportação que chega a 70% da plumagem classificada para ser transformada em produto têxtil, o que contribui para consolidar a região como uma das principais exportadoras do país.
A versatilidade do algodão permite que cada parte da planta possa ser aproveitada e exportada de maneira eficiente. Assim como a plumagem, o caroço do algodão também é utilizado para a fabricação de óleo e ração animal, aumentando a sustentabilidade de forma a contribuir para o crescimento da economia.
Transparência nas etapas de produção
Ao valorizar a “transparência e qualidade” da cotonicultura, a Abapa faz dessa estratégia um meio eficaz de conquistar a confiança dos produtores. À medida que as empresas adotaram a transparência como princípio básico, a indústria do algodão começou a avançar em direção de novas e boas práticas de sustentabilidade.
Cada fardo produzido conta a sua própria história: de onde veio, para onde vai, se possui certificação nacional e internacional, índice de qualidade, dentre outros. Para fornecer essas informações ao consumidor, a associação desenvolveu, em 2004, o Sistema Abapa de Identificação (SAI). Lançado como uma etiqueta, ele traz o código da algodoeira, o tipo de código, o número do fardo, dígito verificador, QR-code e demais dados.
Silmara Ferraresi, diretora de Relações Internacionais da Abapa, explicou que cada etiqueta fornece dados únicos, a depender do destaque indicado, garantindo sua rastreabilidade. Uma amostra vai, por exemplo, para a classificação visual, que é feita nas usinas de beneficiamento do algodão, como na Zanotto Cotton. A outra parte segue direto para o laboratório de HVI, no Centro de Análises de Fibra. “O algodão é analisado fardo a fardo. Por isso, a etiqueta é tão importante. Como o produtor não pode levar o fardo para o laboratório, ele leva a amostra”.
Zanotto Cotton é uma unidade de beneficiamento do algodão também localizada no Oeste Baiano. Na Zanotto é feito o processo de limpeza e separação da pluma do caroço. Por fim, o algodão é distribuído para as indústrias têxteis e outros setores que utilizarão os seus produtos. Todos esses métodos têm como objetivo aprimorar a qualidade, eficiência e transparência da fibra.
Parcerias sustentáveis
Para que a produção do algodão se desenvolvesse na Bahia, foram necessários investimentos em tecnologias agrícolas que utilizassem a prática da sustentabilidade ambiental, social e econômica como principal pilar. Quando o estado abraçou a causa, em conjunto com o Instituto Algodão Social (IAS), foi criado o programa Algodão Brasileiro Responsável (ABR), que se tornou parceiro do Better Cotton Initiative (BCI), organização internacional que tem como missão ajudar as comunidades de algodão a viverem e prosperarem sem nenhum fim lucrativo.
Com adesão voluntária ao programa, que incentiva a exploração correta de recursos naturais, o cotonicultor que deseje participar do processo se compromete a cumprir um protocolo de boas práticas agrícolas em suas fazendas. Ao finalizar todos os trâmites, o produtor recebe uma certificação licenciada pela ABR e pela BCI.
O cenário futuro do agronegócio está cada vez mais entrelaçado com a produção de algodão. O Brasil, atualmente classificado como o segundo maior exportador do mundo, está se preparando, a cada safra, para superar essa posição e assumir o topo da lista. Empenhados em adotar as práticas sustentáveis, os produtores estão trilhando um caminho promissor para o sucesso econômico aliado à responsabilidade ambiental.