Conhecida como a “capital do agronegócio”, a cidade de Luís Eduardo Magalhães, no Oeste da Bahia, se tornou o maior município exportador do estado, com participação de 16,74% na balança comercial, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Por Leticia Cardoso Alvarez Teixeira
O título de polo agrícola baiano não surgiu atoa, já que a principal fonte de renda da cidade é o sistema de rotação de culturas na produção de algodão, soja e milho. Em especial, a cotonicultura na região chama atenção nacional e internacional pela qualidade que apresenta nos processos de colheita e beneficiamento, responsáveis pela pluma e pela fibra de alta resistência comercializadas pelas algodoeiras locais.
“Trabalhamos com todos os tipos de consumidores. Mas a grande maioria dos produtores são de alta qualidade de fibra, porque o algodão da nossa região é excelente. Em média, 60% a 70% é exportado do Brasil”, disse Sérgio Brentano, presidente do Centro de Análise de Fibras da Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa).
Além da qualidade, outro fator que se torna um diferencial na Bahia é a sua produtividade, já que a safra baiana tem capacidade de alta produção. Na Safra 2020/2021, por exemplo, foram plantados 266,6 mil hectares, produzidos cerca de 517,7 mil toneladas de pluma, com produtividade média de 1.942 quilos por hectare, o que são números considerados acima da média nacional.
Valorização do trabalho
Para o algodão local atingir a qualidade citada por Brentano e conquistar destaque no mercado brasileiro e exterior, a fibra recebe auxílio de um dos principais contribuintes no desenvolvimento em sua produção: a Abapa.
Ela atua como representante dos produtores agrícolas e cria espaço para que o algodão colhido em solo baiano passe por um processo sustentável, responsável por integrar cada vez mais agricultores, gerentes, técnicos agrícolas, pesquisadores e consultores da área.
“É bom saber que o trabalho é bem feito, que serve pra alguém, que rende de verdade. Fico feliz em saber que ajudo a Abapa e que também sou ajudado por ela, que dá sustento pra mim e pra meus colegas. Tiro minha renda daqui, muita gente se beneficia que nem eu. Pode estar do meu lado na fábrica ou longe, usando o óleo que a gente faz pra cozinhar depois”, afirmou Jailton Silva, que atua há 12 anos como operador de produção na Icofort, especialista em processamento do caroço de algodão.
Apesar de ter um olhar macro, voltado para as exportações e embarques de algodão brasileiro a cada safra, a Abapa tem estabelecido como foco principal apoiar o trabalhador da cadeia de produção, para que ela permaneça se reinventando de maneira sustentável.
Como incentivo aos produtores, são oferecidos vários programas de capacitação gratuitamente, alguns exclusivos aos funcionários, outros abertos à comunidade, inclusive no próprio Centro de Treinamento (CT) da Abapa, em Luís Eduardo Magalhães. Também há o investimento na educação superior, que impulsiona os trabalhadores que possuem o desejo de estudar para se profissionalizar e se aperfeiçoar no ofício para então se tornar mão de obra especializada, gerando ainda mais valor à produção.
Valorização da sustentabilidade
Outro ponto importante a ser mencionado é que a qualidade do algodão é, antes de mais nada, ligada à terra. Foi partindo deste princípio e visão que as práticas da cotonicultura em Luís Eduardo Magalhães se tornaram exemplo no processo de amadurecimento da sustentabilidade no plantio do algodão, garantido sua excelência não somente na entrega final do produto, mas em boa parte das etapas que a precedem.
Para além do interesse econômico, foi introduzida aos produtores a compreensão de que se esforçar para cuidar do meio ambiente é vantajoso e necessário neste tipo de segmento. Este zelo é implantado em práticas agrônomas sustentáveis, que têm proporcionado resultados positivos para a Bahia, estado que conseguiu tornar 87% da sua área certificada pelo programa Algodão Brasileiro Responsável (ABR).
Um grupo que é exemplo em preocupação pelas boas práticas, através da constante busca de aproveitamento de materiais é a Zanotto Cotton, que promove uma série de iniciativas sustentáveis, entre elas a construção de uma usina solar na algodoeira e a conscientização da importância da reciclagem.
“Ela [a usina] opera desde o ano passado justamente para produzir energia limpa, porque trabalhamos em uma indústria de alto consumo de energia elétrica e, estrategicamente, ficamos localizados em uma região que tem incidência solar o ano inteiro”, afirmou Alessandra Zanotto, que está à frente da empresa.
A produtora também defendeu a importância do reaproveitamento de todo o material utilizado na produção da fibra, desde lona, papel e plástico até subprodutos do próprio algodão. “Tudo aqui é 100% reaproveitado, nada a gente joga fora”, concluiu, reiterando o compromisso que o grupo Zanotto Cotton, assim como diversos produtores, possui com o meio ambiente.