Profissionais da área de saúde e educação ressaltam a importância de mais pesquisas voltadas para os impactos da internet durante os anos de formação.
Reportagem feita por: Iasmin Muniz, Amina Galván, Anne Capistrano, Max Ribeiro.
Estudo recente do Cetic.br, centro de estudos ligados ao Comitê Gestor de Internet no Brasil, mostra que no país, as crianças começam a acessar a internet cada vez mais cedo: 95% de crianças e adolescentes entre 9 e 17 anos utilizam a internet para fins de comunicação, pesquisa e entretenimento, a porcentagem de primeiro acesso a telas feito até os 6 anos é de 24%. Apesar de imprescindível hoje para pesquisas, trabalhos escolares ou até mesmo para se participar das aulas, é necessário tomar alguns cuidados com a forma que as redes são utilizadas.
O motivo da preocupação com esses números está ligado a como essas crianças e adolescentes são afetadas em suas rotinas diárias por conta do uso contínuo de celulares e demais aparelhos eletrônicos. A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), alerta que a dependência ou consumo excessivo e problemático de mídias sociais além de causar problemas de saúde mentais, como o aumento da ansiedade e também podem gerar transtornos de sono e alimentação, sedentarismo, problemas auditivos, visuais e posturais.
O QUE DIZEM AS PESQUISAS?
Para uma melhor compreensão. nossa equipe fez uma pesquisa onde quase 40% dos entrevistados utilizam o celular por 6 horas ou mais, diariamente, e 58% afirmam que possuem dificuldades em realizar atividades sem checar o celular na maioria das vezes. A amostra foi feita realizada com em média 23 crianças, adolescentes e jovens adultos, entre 12 e 23 anos.
Além disso, a faixa etária de primeiro acesso a celulares e televisão está em maioria entre 7 e 10 anos, com 58% de afirmações de falta de supervisão dos conteúdos consumidos nessa idade. O consumo de telas muito cedo na vida pode afetar negativamente o desenvolvimento neurológico das crianças, como dificuldade na comunicação, como afirma a psicóloga Juliana Guedes.
“Além da ativação de certas substâncias neuroquímicas, com impactos na liberação em excesso de cortisol, estimulando uma resposta de estresse, por exemplo, a dependência crescente da tecnologia para a maioria das atividades lúdicas restringe consideravelmente os estímulos à criatividade e imaginação, assim como aqueles essenciais para o desenvolvimento motor e sensorial nessa fase da vida”, pontua Juliana
Na mesma pesquisa, apresentam-se dados de que 44% dos entrevistados desenvolveram algum tipo de estresse e ansiedade que associam ao uso de redes sociais, e 48% deles dizem se comparar constantemente com outras pessoas em alguns aplicativos.
O neurocirurgião, Vivek Murthy, afirma que a falta de pesquisa nessa área faz com que não seja possível associar com certeza os casos de ansiedade, depressão e demais transtornos mentais ao uso de redes sociais, nublando assim os métodos de como evitar esses números crescentes por falta de análises de outros âmbitos para sustentar a teoria. Porém, a instabilidade hormonal de jovens em fase de desenvolvimento é uma brecha de oportunidade para as influências digitais impactam em suas saúdes psicológicas, como se pode observar no estudo da Dra. Jenny Radesky, pediatra de desenvolvimento comportamental.
Murthy ainda destaca que apesar disso, as mídias sociais também podem oferecer resultados positivos para adolescentes marginalizados, como crianças negras ou LGBTQ+, que se encontram em comunidades on-line que podem ajudar na manutenção da saúde mental delas, além de criar conexões identitárias que facilitam sua integração na sociedade.
Um estudo com 6.595 adolescentes americanos entre 12 e 15 anos apontou que aqueles que passavam mais de três horas por dia nas redes sociais tinham o dobro do risco de sintomas de depressão e ansiedade do que os não usuários e que a redução ao acesso causou uma melhora em suas saúdes mentais.
Essa ainda é uma área cinza de estudo, que carece de análises psicológicas, neurológicas e sociológicas, conforme destacado por Gabriella Araújo em seu artigo “A Influência da Mídia no Comportamento Infantil: Os Riscos Sociais e Psicológicos” a exposição precoce das crianças e adolescentes às mídias eletrônicas, bem como as implicações psicológicas e sociais das mudanças naturais e perceptivas da infância no século 21 com a adultização precoce delas, apesar disso, os pais relataram que as crianças não apresentam comportamentos adultizados, mas imitam o conteúdo consumido nos meios tecnológicos, o que configura um risco de exposição a conteúdos impróprios.
PROFESSORES NA ÁREA DISCUTEM QUE ESSA COMBINAÇÃO TAMBÉM AFETA O BEM ESTAR ACADÊMICO DOS JOVENS
A professora de educação infantil Josecy Pereira Muniz diz que o aumento da falta de concentração entre os jovens é uma preocupação crescente, atribuída em parte à influência das redes sociais e ao excesso de informações proporcionado por aplicativos como TikTok e Instagram.
“É notável como as redes sociais competem pela atenção dos alunos durante as aulas, o que pode prejudicar seu aprendizado e capacidade de concentração, muitas vezes precisamos recorrer a proibir o uso na sala e isso parece causar ansiedade nos adolescentes.”
Essa tendência afeta significativamente a forma como os jovens interagem entre si, lidam com a escola e até mesmo seu desempenho acadêmico. Embora não se possa atribuir toda a culpa às redes sociais, é evidente que elas desempenham um papel crucial nesses problemas, como é observado diariamente não apenas por professores, mas também pelos pais. “Eles precisam aprender a dividir a atenção entre as redes e o conteúdo passando e isso é difícil, estamos falando de crianças e adolescentes e é comum para eles preferirem algo divertido. O celular torna essas distrações mais evidentes, acredito” completa ela.
A constante distração e a busca por estímulos rápidos e instantâneos nessas plataformas têm impactos negativos na capacidade dos jovens de se concentrarem em tarefas importantes e de se envolver plenamente em suas atividades escolares e sociais. Essa realidade demanda uma reflexão profunda sobre como equilibrar o uso das redes sociais com o desenvolvimento saudável dos jovens, visando promover hábitos mais equilibrados e produtivos em suas vidas.
É PRECISO SER CAPAZ DE ENSINAR AS CRIANÇAS A SE EQUILIBRAREM ENTRE AS SUAS REDES E SUAS OBRIGAÇÕES, ALÉM DE HOBBIES QUE NÃO ENVOLVAM CENÁRIOS DIGITAIS.
Há uma necessidade premente de restringir o acesso e monitorar adequadamente o uso das mídias por parte das crianças, inclusive por meio do uso de aplicativos específicos para bloquear conteúdos inadequados para suas idades. Essas medidas são essenciais para proteger o desenvolvimento saudável e a segurança psicológica das crianças na era digital. A SBP lista para pais, professores e responsáveis, uma série de medidas importantes que se devem tomar para proteger crianças e adolescentes dessas porcentagens crescentes, entre elas limitar o tempo de exposição à mídia e estimular de forma saudável demais atividades além das virtuais.