O ofício do influencer| Por Riane Bernardes

Para ascensão na carreira, digite login e senha ;)

Há um ditado que diz que para ser lembrado, é preciso ser visto. No passado, o “boca a boca” era suficiente para atrair novos clientes, mas com a ascensão das redes sociais, as dinâmicas de posicionamento no mercado de trabalho transformaram-se. Em 2023, um estudo da Nielsen, publicado pelo portal Consumidor Moderno, revelou que o Brasil conta com mais de 500 mil influenciadores digitais no Instagram, posicionando o país como líder no ranking mundial dessa plataforma. 

O surgimento dessa nova “carreira” justifica-se ao ponderarmos que, segundo a Comscore, o Brasil está em terceiro colocado no ranking de países que mais consomem redes sociais no mundo. Hoje, é comum as pessoas recorrerem às redes para encontrar ou validar o profissionalismo, por exemplo, de médicos a restaurantes. Em questão de minutos, o cliente em potencial pode verificar o portfólio de um profissional, examinar trabalhos realizados e conferir feedbacks de outros clientes, encurtando a distância entre a oferta, a demanda e as expectativas que movimentam esse mercado.

De acordo com uma pesquisa do portal DataReportal, as redes sociais são a segunda forma de busca online mais utilizada, ficando atrás apenas de ferramentas de busca, como o Google. Pensando por esse lado, muitos profissionais entendem que manter uma presença online é a melhor forma de progredir na carreira. Seja por criar uma comunidade de seguidores que gostam do serviço que ele oferece ou por conseguir exibir de que maneira trabalha e como funciona a rotina profissional dele, ou até mesmo conectar-se a empresas e possíveis patrocinadores deste serviço oferecido.

O story é meu palco *\(^o^)/*

A internet tornou-se uma poderosa vitrine, ampliando a visibilidade de quem se expõe e permitindo a conquista de novos públicos, além de possibilitar notoriedade em um curto tempo e em escala assustadoramente maior. No entanto, há o que ser questionado nessa dinâmica. Afinal, por que todo mundo quer manter uma presença no meio digital? Na verdade, a gente se propõe a retrucar algo ainda maior. Por que grande parte dos profissionais acreditam ter aptidão para ser influenciador digital?

Ao que parece, criar uma conta no Instagram, ou em alguma outra rede social, é visto como o atual caminho para o  sucesso imediato na carreira. Segundo Issaaf Karhawi, jornalista e doutora em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo (USP), em conteúdo colaborativo com o Contente, veículo que utiliza dados para elaborar conteúdos e propor debates sobre pautas cotidianas, divulgado em janeiro de 2023, essa pressão para estar presente nas redes sociais é quase inevitável. “De repente, a habilidade nas redes passa a ser mandatório, pois é ali que as pessoas conseguem ser visíveis. É por isso que todo mundo anseia por esse espaço de influencer”, explica.

O “story” não é  apenas um espaço para compartilhar experiências, mas um palco onde os usuários podem construir suas marcas pessoais e alcançar novos públicos. À medida que o mercado evolui, aqueles que entenderem como navegar por essa nova realidade estarão melhor posicionados para prosperar na economia digital.

Entretanto, essa expectativa pode ser desgastante e não necessariamente alinhada com as habilidades ou interesses individuais. Muitos profissionais que não são comunicadores por formação podem não ter afinidade com a criação de conteúdo para redes ou simplesmente preferem se concentrar em suas áreas de expertise.

Por isso, a influência digital deve ser entendida como uma estratégia de comunicação, e não apenas como uma atividade profissional. Criar conteúdo para redes sociais requer, além de estudo, a integração da produção de publicações na rotina diária. Assim, essa tarefa se torna uma parte da estratégia de carreira, sendo uma das várias maneiras de apresentar os serviços que se oferece. 

Portanto, ao optar por uma dupla jornada, online  e off-line, é fundamental manter o padrão do trabalho construído fora das redes. Dessa forma, a presença virtual exigirá estratégias claras, incluindo a identificação precisa do público-alvo, a linguagem adequada e a escolha ideal das plataformas digitais. A gente tem exemplos de sucesso de quem trilhou essa trajetória. Olha só as indicações de perfis!

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Mariane Porto, ou melhor @mariane.odontologia, é uma cirurgiã dentista e criadora de conteúdo. Para ela, a presença nas redes foi fundamental para estruturar autoridade na área de formação. Ao optar por utilizar o Instagram desde o início da faculdade como um diário de estudo e aprendizagem, a dentista explica que entendeu a ferramenta como um ambiente de conexão com os futuros pacientes. Em entrevista, ela conta que ao longo da graduação esse espaço virtual tornou-se uma comunidade onde os seguidores conectaram, desde o início, a imagem dela à determinado padrão de conteúdo sobre odontologia. 

A seleção de quem seguimos em redes sociais faz toda diferença na influência de conteúdo que absorvemos cotidianamente. Todo mundo que você segue te influencia positivamente? Essa pergunta nos leva a refletir sobre o impacto das vozes que escolhemos ouvir. Pensando nisso, fizemos uma curadoria especial que te fará repensar sua experiência online como profissional que busca um lugar ao sol na influência. 

Através de uma comunicação clara e educativa, Mariane alcançou mais de 13 mil seguidores e o maior prêmio que todo influenciador almeja, a credibilidade. Unindo a linguagem adequada à lógica da influência, a profissional teve um aumento significativo de seguidores e oportunidades profissionais, incluindo propostas de trabalho internacionais. A combinação de expertise profissional e habilidade em comunicação digital foi fundamental para que ela conquistasse o conceito desejado na área de formação.

Basta  um clique e você conhecerá esses e outros detalhes que fizeram toda diferença na trajetória da cirurgiã dentista. 

Ao que parece estar ativo no canal, não é suficiente para alcançar méritos com a presença online. A influência por viralização resulta em mais seguidores, mas ao afirmar que o posicionamento como um profissional acessível e confiável, Mariane deixa explícito que a lógica da influência é o encontro entre a comunicação digital e a economia da atenção. Em  “De blogueira a influenciadora”, livro publicado em 2020, resultado da tese de doutorado defendida por Issaaf Karhawi na ECA-USP, confirma o que a dentista aprendeu na prática. Na obra, a autora argumenta que a atenção das pessoas se tornou a principal moeda na nova ordem econômica das mídias digitais.

Por isso, a próxima indicação de perfil é @rafaelbitt. Rafael Bittencourt, além de arquiteto e cenógrafo por formação, é um amante da comunicação e futuro estudante da área. Para ele, a credibilidade na rede tem relação com o tipo de influência exercida. Quando o papo é: não ser influenciador digital apenas por seguir o fluxo, Rafael tem propriedade no assunto.

“Para mim, é fundamental sentir que meu trabalho tem um impacto significativo. Não quero apenas publicar mais um story, cada postagem deve ter um propósito claro e contribuir de maneira relevante para a minha trajetória.” Rafael Bittencourt

A escolha da inserção no mercado digital implica na organização das demandas de trabalho fora e dentro da rede. Não basta ter um perfil, se é para estar no ambiente virtual que seja de modo relevante.  Afinal, aquele é o espaço de divulgação das atividades que você desenvolve. Acompanhe a entrevista com Rafael através de um daily vlog. Este é um papo sobre o conteúdo que queremos enfatizar nas redes.

Daily Vlog: @rafaelbitt e a influência digital. #SigaEste@!

Resumindo, o seu perfil no Instagram não é um distintivo de excelência no trabalho. Até porque isso nos faz pensar: além de bom profissional, todos precisam ser influenciadores para ter o tão sonhado sucesso na carreira? Em caso de falta de tempo para administrar a própria conta em um canal digital ou não ter afinidade ou desejar desempenhar a profissão sem transformar  a rede social em uma vitrine, ainda assim é possível exercer a ocupação sem peso na consciência? 

Afinal, quem paga o turno da produção de posts? ¯\_(ツ)_/¯

Um conteúdo divulgado pelo veículo Contente, em julho de 2022, afirma que compartilhar as nossas expertises no Instagram pode ser ótimo, mas quando isso vira uma obrigação de modo que reflete na remuneração, se transforma em sobrecarga. Diante disso, em busca de boas influências, conhecemos profissões bem sucedidas que, como muitos de nós, não tem tempo suficiente para administrar um perfil profissional online, além da jornada convencional de trabalho. Sem “dar um google” , Thais Mattos e Stefane Louise são influenciadoras off-line, aquelas pessoas que, apesar de estarem fora da rede, inspiram grupos com a trajetória profissional que constroem.

Nem tão off-line assim: Conheça Thais Mattos

Com trabalhos expostos pelas redes, Thais é graduada em relações públicas pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB) e atua como social media de diferentes clientes e terceiriza serviços e produção de conteúdo criando linhas editoriais para agências de publicidade. Em meio a trabalhos fixos e freelancing, a RP encara a  administração do próprio perfil em uma plataforma digital como uma demanda extra. Sendo profissional de comunicação, Thais entende que é necessário tempo e planejamento na criação de conteúdo. 

“Criar conteúdo para o meu perfil seria como ser minha própria cliente.” Thais Mattos

Ao pontuar que a rede social é um espaço imprevisível, a social media recorda que este ambiente é um trabalho de experimentação, análise e estudo. “Por trás de cada tela existem pessoas com sentimentos  e percepções. A partir disso, elas escolhem interagir ou não com aquilo que produzimos, por isso há um incômodo pessoal e profissional da atuação de determinados profissionais em rede que agem como centralizadores de conteúdo e ‘gurus’ detentores do conhecimento. Não há uma previsão dos resultados dessa atuação em canais digitais sem falhas e com 100% de chance de viralizar ou alcançar o sucesso, o campo virtual é um espaço de teste”, acrescenta. 

De carona com Stefane: As conexões que fazemos fora das redes

Ainda é possível ter uma boa conversa e trocar ideias com bons profissionais sem utilizar um direct do Instagram, o inbox do facebook ou o chat particular do whatsapp. De forma despretensiosa, em uma carona que duraria uma hora e meia, Stefane se tornou a fonte ideal para esta reportagem. 

A fisioterapeuta e empreendedora tem algo em comum com as demais fontes que vimos por aqui, apesar de não considerar ter habilidades para estar no espaço virtual, Stefane Louise tem um ótimo papo e ponderações interessantes sobre o tema abordado. Para ela, influenciar é ter autoridade e relevância, conquistas essas que a fazem dominar a área de formação fora do meio digital. Hoje, a profissional atua como fisioterapeuta e é dona de uma clínica que oferece serviços de pilates, RPG, fisioterapia e que acaba de ser expandida devido a demanda de novos clientes. 

Neste papo, que encurtou o trajeto da viagem, Stefane menciona o episódio 79 do podcast “Conselhos que você pediu”, um programa divertido que aborda pautas atuais como uma conversa ou melhor uma fofoca, apresentado pela jornalista Isabela Reis. Neste episódio, intitulado “Influencer é profissão?”, a jornalista explica o conceito dessa figura tão presente na rede social e declara que ser influenciador não é uma profissão e sim uma estratégia na carreira. 

Ao concordar com a jornalista, a empreendedora afirma que considerar que o sucesso profissional está exclusivamente ligada à seguidores no perfil ou viralização na internet, exclui detalhes importantes da trajetória.

“Eu me conecto com meus clientes pessoalmente, não tenho uma rede social como portfólio e não tenho tempo para exercer essa nova demanda. Não é uma tarefa obrigatória. Embora admire quem tem habilidades em comunicação digital, acredito que o sucesso pode ser reconhecido de outras formas também.” Stefane Louise

Por coincidência, afinal o mundo e talvez a internet não sejam tão grandes assim, Stefane conhece a dentista e fonte de nossa reportagem, Mariane Porto, e relembra que ao acompanhar parte da história acadêmica e profissional dela através do Instagram, sempre notou dedicação e propriedade sobre o conteúdo, o que para Stefane é o diferencial de quem se propõe a estar nas redes. “O seu perfil pode ser um espaço de compartilhar vivências, mas não cabe todo o seu currículo. Existem bons influenciadores nas redes e eles nos provam isso. Afinal, a  influência digital é uma construção sob pilares como a veracidade, a excelência e a entrega off-line”, conclui. 

Sua carreira não é seu feed \(〇_o)/

O conceito de sucesso deve ser redefinido para incluir diferentes trajetórias profissionais. Ter uma presença digital pode ser benéfica, mas não deve ser vista como um requisito indispensável. Cada profissional deve avaliar suas próprias habilidades e interesses antes de embarcar na jornada das redes sociais.

Em 2021, uma pesquisa realizada com 5.000  influenciadores digitais da América Latina pela Atlantico, empresa  de apoio a fundadores latinos, para entender a economia criativa indicou que a maioria dos usuários que utilizam plataformas de mídia para influenciar o comportamento do público online e offline, tem dificuldade em monetizar.  De acordo com a empresa, aproximadamente 50% dos influenciadores ganham menos de R$500 por mês e apenas 14% conseguem gerar mais de R$2.500 mensais com seu conteúdo.

Ou seja, nem tudo parece ser aquilo que é. Karhawi conclui que a diversidade de caminhos para o sucesso deve ser celebrada. Portanto, ao invés de seguir cegamente a tendência da influência digital, os profissionais devem encontrar suas próprias vozes e formas de se destacar no mercado, afinal a visibilidade conquistada nas redes não define as competências  e o retorno de atuação no mercado. 

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